HERODES, O GRANDE

HERODES, O GRANDE

Identificação Histórica

Herodes, o Grande foi um dos governantes mais notórios do período intertestamentário e do Novo Testamento. Seu nome está profundamente ligado ao nascimento de Jesus Cristo (Mt 2.1), e sua figura histórica é marcada tanto por realizações arquitetônicas grandiosas quanto por atos de extrema crueldade.

Herodes iniciou sua carreira como governador militar da Galileia em 47 a.C., e em 40 a.C. o Senado Romano o proclamou rei da Judeia com o apoio de Marco Antônio e Otaviano (posteriormente conhecido como César Augusto). Após vencer a resistência judaica e tomar Jerusalém em 37 a.C., consolidou seu poder e governou até sua morte em 4 a.C. (Josefo, Antiguidades Judaicas, XVII.6–8).

Origem Familiar e Política

Herodes era filho de Antípater, um idumeu convertido ao judaísmo, e de Cipros, uma nobre nabateia. Essa origem mista fez dele um rei politicamente hábil, mas religiosamente contestado, já que muitos judeus o viam como estrangeiro.

Buscando legitimar seu governo, casou-se com Mariamne, neta do sumo sacerdote Hircano II, da dinastia dos Hasmoneus — mas posteriormente ordenou sua execução, juntamente com outros membros da própria família, temendo conspirações contra seu trono.

Apesar de tentar agradar o povo judeu reconstruindo o Templo de Jerusalém, Herodes era abertamente favorável à cultura greco-romana, o que o levou a construir templos e cidades em homenagem a deuses e imperadores romanos.

Realizações e Construções

Herodes foi um grande construtor do mundo antigo, deixando obras monumentais que ainda impressionam arqueólogos e historiadores. Entre suas principais realizações estão:

  • O Templo de Jerusalém — reconstruído com magnificência, tornando-se um dos mais grandiosos do mundo antigo (Jo 2.20).

  • Palácios em Massada, Jericó, Herodium e Ascalom.

  • Cidades inteiras, como Cesareia Marítima, construída em honra a César Augusto, e Sebaste (Samaria).

  • Templos pagãos, ginásios, anfiteatros, colunatas e banhos públicos em estilo romano espalhados pela Judeia e arredores.

Arqueólogos modernos, como Ehud Netzer, confirmam essas realizações e localizaram parte das estruturas do Herodium, um palácio-fortaleza ao sul de Jerusalém, onde Herodes foi sepultado com pompa real.

Caráter e Governo

Herodes era conhecido tanto por sua inteligência política quanto por sua paranoia extrema. Sua política era pragmática: frequentemente apoiava o lado derrotado em conflitos romanos (como Marco Antônio e Cleópatra), mas sempre conseguia preservar seu trono por meio de alianças rápidas e submissão estratégica — especialmente a Otaviano, futuro César Augusto.

Seu temperamento violento e desconfiado levou à execução de parentes, filhos, esposa e líderes religiosos. A crueldade de Herodes tornou-se lendária. O historiador romano Macróbio registrou a ironia atribuída a César Augusto:

“É melhor ser o porco de Herodes do que seu filho” — alusão à sua aparência de piedade judaica e à prática de matar familiares (Macróbio, Saturnalia, II.4.11).

Herodes e o Nascimento de Cristo

Durante o fim de seu reinado, Herodes ordenou o massacre dos meninos de Belém (Mt 2.16–18), um ato que o tornou símbolo da tirania e perseguição ao Messias. O evangelista Mateus associa este evento à profecia de Jeremias 31.15.

Em consequência dessa perseguição, José e Maria fugiram com o menino Jesus para o Egito (Mt 2.13–14), retornando apenas após a morte de Herodes. Ele morreu em seu palácio em Jericó, vítima de uma doença dolorosa, descrita por Flávio Josefo (Antiguidades Judaicas, XVII.6.5).

Sucessão e Herdeiros

Após sua morte, o reino foi dividido entre seus três filhos sobreviventes:

  • Arquelau, etnarca da Judeia e Samaria (Mt 2.22);

  • Herodes Antipas, tetrarca da Galileia e Pereia (Mt 14.1–10);

  • Filipe II, tetrarca da Itureia e Traconites (Lc 3.1).

Outros descendentes da dinastia herodiana aparecem no Novo Testamento:

  • Herodes Agripa I, neto de Herodes, perseguiu os cristãos e mandou matar Tiago (At 12.1–23);

  • Herodes Agripa II, bisneto, ouviu Paulo em Cesareia (At 25.13–26.32);

  • Herodias e Salomé, envolvidas na morte de João Batista (Mc 6.17–28).

Legado

Herodes deixou uma marca paradoxal: foi um gênio da arquitetura e da política, mas também um símbolo da corrupção e do medo. Seu nome tornou-se sinônimo de poder sem piedade, e seu reinado marcou a transição entre a autonomia judaica e o domínio imperial romano sobre a Terra Santa.

Referências Bibliográficas (ABNT)

ALMEIDA, João Ferreira de. A Bíblia Sagrada. Edição Revista e Atualizada. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009.

JOSEFO, Flávio. Antiguidades Judaicas. Trad. Luís Manuel de Araújo. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004.

MACRÓBIO. Saturnalia. Trad. Percival Vaughan Davies. Nova Iorque: Columbia University Press, 1969.

NETZER, Ehud. The Architecture of Herod, the Great Builder. Tübingen: Mohr Siebeck, 2006.

PRATICO, Gary D.; VAN PELT, Miles V. Atlas Histórico da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 2015.

TENNEY, Merrill C. Enciclopédia da Bíblia. 3. ed. São Paulo: Vida Nova, 2007.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Compartilhe este conteúdo com os seus amigos

Arquivo do blog