PARÁBOLAS DE JESUS REGISTRADAS NOS EVANGELHOS

PARÁBOLA

A parábola é uma forma literária e pedagógica amplamente utilizada na Antiguidade, especialmente no contexto judaico, para transmitir verdades morais, espirituais e religiosas por meio de comparações simples, mas profundas. A palavra vem do grego parabolḗ, que significa literalmente “colocar lado a lado”, ou seja, comparar. No hebraico, o termo correspondente é mashal, que também pode ser traduzido como “provérbio”, “ditado” ou “figura de linguagem” (cf. Nm 23.7; 2Sm 12.1–4; Pv 1.6).

As parábolas diferem das fábulas por não recorrerem a personagens imaginários ou animais falantes. Elas se baseiam em situações reais e plausíveis, extraídas da vida cotidiana, como o trabalho agrícola, as relações familiares, o comércio, a pesca e as tradições religiosas de Israel.

Função das Parábolas

As parábolas tinham como propósito principal revelar verdades espirituais profundas por meio de imagens simples, permitindo que os ouvintes compreendessem realidades divinas de maneira acessível. Jesus Cristo, o maior mestre do uso dessa forma literária, empregava parábolas para ensinar o Reino de Deus.

Ele mesmo declarou aos discípulos o motivo de usar esse método:

“Porque a vós é dado conhecer os mistérios do Reino dos céus, mas a eles não lhes é dado” (Mt 13.11).

Assim, a parábola cumpria duas funções simultâneas:

  1. Revelar a verdade aos corações sensíveis e abertos à fé;

  2. Ocultar a verdade daqueles que, mesmo vendo, não queriam crer (Mt 13.13–15).

Estrutura e Método

Uma parábola geralmente apresenta:

  • Um cenário cotidiano (um campo, um banquete, uma casa, um mercado);

  • Personagens comuns (lavradores, servos, pescadores, mercadores, pais e filhos);

  • Um contraste moral ou espiritual, que leva o ouvinte a uma decisão ou reflexão;

  • Um princípio do Reino de Deus, expresso de modo simbólico.

A interpretação de uma parábola exige considerar seu contexto histórico e teológico, evitando alegorizações forçadas. O foco deve estar na mensagem central que Jesus quis comunicar.

As Parábolas de Jesus

Os Evangelhos registram cerca de 44 parábolas contadas por Jesus, sendo exclusivas de cada evangelista em alguns casos. Mateus, Marcos e Lucas são conhecidos como Evangelhos Sinóticos, justamente por apresentarem várias parábolas em comum.

Abaixo estão listadas, em ordem alfabética, as parábolas de Cristo mencionadas nos Evangelhos:

O administrador desonesto (Lc 16.1–9); o amigo importuno (Lc 11.5–8); as bodas (Mt 22.1–14); o bom samaritano (Lc 10.29–37); a casa vazia (Mt 12.43–45); coisas novas e velhas (Mt 13.51–52); o construtor de uma torre (Lc 14.28–30); o credor incompassivo (Mt 18.23–35); o dever dos servos (Lc 17.7–10); as dez virgens (Mt 25.1–13); os dois alicerces (Mt 7.24–27); os dois devedores (Lc 7.40–43); os dois filhos (Mt 21.28–32); a dracma perdida (Lc 15.8–10); o fariseu e o publicano (Lc 18.9–14); o fermento (Mt 13.33); a figueira (Mt 24.32–33); a figueira estéril (Lc 13.6–9); o filho pródigo (Lc 15.11–32); a grande ceia (Lc 14.15–24); o joio (Mt 13.24–30,36–43); o juiz iníquo (Lc 18.1–8); os lavradores maus (Mt 21.33–46); os meninos na praça (Mt 11.16–19); a ovelha perdida (Lc 15.3–7); o pai vigilante (Mt 24.42–44); a pedra rejeitada (Mt 21.42–44); a pérola (Mt 13.45–46); os primeiros lugares (Lc 14.7–11); a rede (Mt 13.47–50); o rei que vai para a guerra (Lc 14.31–32); o remendo com pano novo (Lc 5.36); o rico e Lázaro (Lc 16.19–31); o rico insensato (Lc 12.16–21); o semeador (Mt 13.3–9,18–23); a semente (Mc 4.26–29); a semente de mostarda (Mt 13.31–32); o servo fiel (Mt 24.45–51); os servos vigilantes (Mc 13.33–37); os talentos (Mt 25.14–30); o tesouro escondido (Mt 13.44); os trabalhadores da vinha (Mt 20.1–16); e o vinho e os odres (Lc 5.37).

Cada parábola apresenta uma verdade do Reino de Deus, como o amor ao próximo, a vigilância espiritual, o juízo divino, o arrependimento e a graça salvadora.

Importância Teológica

Teologicamente, as parábolas revelam o caráter do Reino de Deus — já presente, mas ainda não consumado — e demonstram o modo como Jesus revelava verdades eternas por meio de elementos temporais. Elas convidam o ouvinte à decisão espiritual e ao discipulado prático.

As parábolas também refletem o método de ensino rabínico do século I, mas com um diferencial: Jesus falava com autoridade divina, e não como os mestres da lei (Mc 1.22).

Conclusão

As parábolas são uma das formas mais belas e eficazes de ensino da Bíblia. Elas unem simplicidade narrativa e profundidade espiritual, revelando a sabedoria divina e a pedagogia de Cristo. Ao longo dos séculos, continuam sendo fonte de meditação, inspiração e instrução moral para todos os que buscam compreender o Reino de Deus.

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