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OS LIVROS DO ANTIGO E NOVO TESTAMENTO ACEITOS POR TODOS
Introdução
A Bíblia apresenta menções diversas ao nome "Jeremias", que não se restringem apenas ao profeta autor do livro homônimo. Entre outros, encontramos: um príncipe da tribo de Manassés; guerreiros que apoiaram Davi em Ziclague; um cidadão de Lobna, pai de Amital; e um recabita chamado Jeremias, filho de Habsanias e pai de Jezanias. Esse exemplo demonstra que a Bíblia reúne múltiplos indivíduos com nomes semelhantes, nem todos correspondendo ao profeta Jeremias do Antigo Testamento.
A Extensão do Cânon do Novo Testamento
A formação do cânon do Novo Testamento envolveu debates sobre a aceitação de determinados livros pela Igreja primitiva. A maior parte das escrituras foi aceita sem objeções e chamada de homologoumena, ou seja, livros cuja canonicidade era reconhecida por todos os Pais da Igreja. Entre os 27 livros do Novo Testamento, 20 são considerados homologoumena; os sete restantes — Hebreus, Tiago, 2º Pedro, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse — não tiveram aceitação unânime, sendo omitidos por alguns, mas não questionados.
Livros Homologados
Os livros homologados foram incorporados desde o início nas principais traduções e cânones da Igreja primitiva, servindo como referência para a fé cristã e liturgia.
Historiadores e Teólogos da Evolução do Cânon
Flávio Josefo (37–103 d.C.)
Historiador judeu que registrou eventos sobre leis, guerras e revoltas do povo de Israel. Em suas obras — Antiguidades Judaicas, Guerra dos Judeus e Contra Apião —, Josefo reconheceu apenas os 22 livros do cânon hebraico e mencionou a existência de livros apócrifos.
Orígenes (185–254 d.C.)
Teólogo e filósofo cristão de Alexandria, autor de obras como Hexapla e Contra Celso. Orígenes defendia a liberdade de especulação sobre assuntos não centrais à fé e introduziu ideias sobre a restauração universal de todos os seres. Foi considerado herege post mortem no Concílio Ecumênico de 553.
Eusébio de Cesaréia (263–340 d.C.)
Bispo e historiador, autor da História Eclesiástica, obra fundamental para o conhecimento dos primeiros séculos da Igreja Cristã.
Irineu de Lyon (130–202 d.C.)
Bispo e teólogo que defendeu a autenticidade dos Evangelhos, citando testemunhas como Justino Mártir e Inácio. Desenvolveu a teoria da recapitulação, explicando a obra redentora de Cristo.
Jerônimo (345–420 d.C.)
Especialista em hebraico, traduziu a Vulgata latina e adotou uma posição rigorosa contra os livros apócrifos, sendo o primeiro a usar explicitamente esse termo. No prólogo aos livros de Samuel e Reis, listou os 22 livros inspirados do cânon hebraico, seguindo o padrão original.
“Se alguém quiser ler os apócrifos, que o faça apenas como contos maravilhosos, sem buscar nas doutrinas a verdade” (Jerônimo).
Divergências Católicas
A inclusão de escritos adicionais no cânon começou com Agostinho (354–430 d.C.). A Igreja Católica, seguindo seu exemplo, incorporou esses livros no Concílio de Cartago (397 d.C.) e consolidou a decisão no Concílio de Trento (1546 d.C.). Contudo, nem todos os escritos foram aceitos: a Oração de Manassés e 1 e 2 Esdras foram excluídos.
João Wycliffe, tradutor da Bíblia para o inglês no século XIV, e o cardeal Cajetan enfatizaram a distinção entre os livros do cânon hebraico e os apócrifos, reforçando a autoridade dos textos originais.
Conclusão
O cânon bíblico foi formado por um processo histórico cuidadoso, com ampla participação de historiadores, teólogos e líderes da Igreja. Os livros do Antigo e Novo Testamento aceitos por todos formam a base da fé cristã, enquanto os textos apócrifos permanecem como literatura religiosa de caráter histórico e moral, mas não canônico.
Referências Bibliográficas
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EUSÉBIO DE CESARÉIA. História Eclesiástica. Tradução e comentários. São Paulo: Mundo Cristão, 2000.
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JERÔNIMO. Prólogo aos Livros de Samuel e Reis. Roma, 405.
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ORÍGENES. Contra Celso. Tradução. São Paulo: Paulus, 1998.
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PAYNE, David F. Comentário Bíblico NVI. Organizado por F.F. Bruce. São Paulo: Vida, 2008.
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WYLCLIFFE, João. Prefácio da Tradução da Bíblia para o Inglês. 1382.
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