FAÇA COMO VOCÊ QUISER

 Consenso e Respeito: O Perigo da Mentalidade de Solteiro no Casamento

Introdução

Uma das frases mais comuns em discussões entre casais é: “faça como você quiser”. Embora soe como respeito à liberdade do outro, muitas vezes esconde indiferença, desunião e falta de consenso. No matrimônio, essa mentalidade pode ser perigosa porque o casamento exige ajustes mútuos, renúncia parcial da individualidade e construção de uma nova identidade conjugal. Não se trata de perda de liberdade, mas de amadurecimento: dois tornam-se uma só carne (Gn 2.24).

1. O risco de trazer hábitos de solteiro para a vida a dois

Quando alguém se casa, não pode mais agir como se vivesse sozinho. Decisões que antes eram individuais — como vestir-se, gastar dinheiro, definir horários — passam a ter impacto direto no cônjuge. Manter hábitos de solteiro dentro do casamento gera conflitos porque:

• Transmite a ideia de independência absoluta, incompatível com a vida em aliança;

• Desconsidera o impacto das escolhas pessoais sobre a imagem e a reputação do outro;

• Abre espaço para ressentimentos, por não buscar diálogo nem consenso.

O casamento, portanto, não é a soma de duas vidas isoladas, mas uma fusão de propósitos, um caminhar conjunto.

2. O peso das escolhas pessoais na imagem do casal

Na cultura bíblica, a reputação da família era fundamental. A conduta de um membro refletia sobre todos os demais. Por isso, tanto o marido quanto a esposa devem cuidar de suas atitudes, palavras e até mesmo aparência, porque representam um ao outro.

• A esposa reflete sobre o marido (Pv 12.4: “A mulher virtuosa é a coroa do seu marido”).

• O marido também reflete sobre a esposa (Ef 5.25: “Maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja”).

Quando a mulher cuida de sua imagem, não está apenas valorizando a si mesma, mas também honrando a reputação de seu marido. Da mesma forma, o homem que zela por sua conduta está protegendo a dignidade de sua esposa.

3. O verdadeiro sentido de consenso no casamento

A frase “faça como você quiser” sugere divisão. Mas Jesus ensinou: “Todo reino dividido contra si mesmo ficará deserto” (Mt 12.25). E Amós declarou: “Andarão dois juntos, se não houver entre eles acordo?” (Am 3.3).

O consenso não significa que sempre haverá concordância imediata, mas que ambos se esforçam para chegar a uma decisão equilibrada, sem imposição unilateral nem indiferença. No casamento, não existe espaço para neutralidade: omitir-se diante de uma decisão importante é uma forma de deixar o outro sem apoio.

4. O direito de se impor: quando é cuidado, não violência

Impor limites dentro do casamento não significa autoritarismo ou opressão, mas assumir responsabilidade pelo bem-estar do casal e da família. Quando o marido expressa incômodo diante de algo que pode afetar a imagem do casal, ele não está sendo controlador, mas zelando pela reputação que envolve os dois.

É claro que isso deve ser feito com amor, diálogo e respeito — sem agressividade ou imposição violenta. O mesmo vale para a esposa: ela também tem o direito de expor incômodos e buscar mudanças que protejam a harmonia do lar.

5. Caminho prático para superar o “faça como você quiser”

• Ouvir antes de decidir: nenhuma decisão importante deve ser tomada sem escutar o outro.

• Buscar equilíbrio: não impor, mas negociar até chegar a um meio-termo.

• Evitar indiferença: mostrar que a opinião do outro importa é ato de amor.

• Praticar renúncia: abrir mão de certos desejos individuais fortalece a unidade.

• Orar juntos: convidar Deus para o processo de decisão evita que vontades humanas prevaleçam sobre a vontade divina.

Conclusão

O casamento não é espaço para frases de indiferença como “faça como você quiser”. É ambiente de parceria, consenso e cuidado mútuo. Quando marido e esposa compreendem que suas escolhas individuais refletem na imagem do casal, aprendem a agir com mais responsabilidade e respeito. O matrimônio exige abrir mão de uma mentalidade de solteiro para abraçar a vida em unidade, onde decisões são tomadas juntos, e cada renúncia fortalece o vínculo de amor e compromisso.

Bibliografia

GONZÁLEZ, Justo L. História do Pensamento Cristão: Vol. 1. São Paulo: Vida Nova, 2013.

KELLER, Timothy. O Significado do Casamento. São Paulo: Vida Nova, 2016.

LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2001.

STOTT, John. O Cristão Contemporâneo. São Paulo: ABU Editora, 2012.

WRIGHT, N. T. Surpreendido pela Esperança. Viçosa: Ultimato, 2010.


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