O Amor que Protege e o Amor que Impulsiona - Os Papéis Complementares de Mãe e Pai

Mãe abraçando filho

Introdução:

A criação de um filho é uma dança delicada entre proteção e preparação, onde os papéis da mãe e do pai se complementam para formar um ser humano equilibrado e preparado para a vida. A Bíblia, um guia perene sobre comportamento humano, destaca a importância de ambos os pais na formação dos filhos, com passagens como Provérbios 22:6: “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele.” Este capítulo explora as diferenças entre o amor materno, que protege, e o amor paterno, que impulsiona, examinando como esses estilos se manifestam e por que o equilíbrio entre eles é essencial. Enriquecido por perspectivas psicológicas, antropológicas e estudos brasileiros, o texto reflete sobre os desafios de criar filhos sem a presença paterna e a importância de ambos os papéis para o desenvolvimento saudável.

O Amor Materno: A Proteção como Expressão de Cuidado

O amor de uma mãe é frequentemente associado à proteção, um instinto que busca preservar o filho de perigos físicos e emocionais. No relato inicial, uma mãe hesita em deixar o filho descer um toboágua, temendo que ele se machuque. Esse comportamento reflete o que a psicologia chama de “instinto de apego”, descrito por John Bowlby como a tendência da mãe de criar uma “base segura” para a criança (Bowlby, 1969). Essa proteção é essencial nos primeiros anos, garantindo que a criança se sinta segura para explorar o mundo.

No contexto brasileiro, o papel protetor da mãe é amplificado pela cultura matrifocal, especialmente em famílias monoparentais lideradas por mulheres. Estudos como o de Claudia Fonseca (2005) mostram que, no Brasil, as mães frequentemente assumem o papel de “eixo” da família, protegendo e sustentando emocionalmente os filhos. No entanto, quando essa proteção se torna excessiva, pode limitar a autonomia da criança, levando ao que o relato chama de “filho pudim” – uma metáfora para alguém que, por falta de desafios, não desenvolve resiliência.

A Bíblia reconhece a força do amor materno, mas também alerta contra seus excessos. Em Provérbios 31:25-26, a mulher virtuosa é descrita como alguém que combina força e sabedoria, sugerindo que o cuidado materno deve equilibrar proteção com orientação. Sem a contrapartida paterna, a criança pode crescer com dificuldades em enfrentar adversidades, como apontado em pesquisas brasileiras sobre famílias monoparentais, que indicam maior vulnerabilidade emocional em filhos criados exclusivamente por mães (Marcondes, 2018).

O Amor Paterno: O Impulso para o Sucesso

O amor paterno, por outro lado, é descrito como um impulso para preparar o filho para o sucesso. No relato, o pai incentiva o filho a descer o toboágua, oferecendo um picolé como recompensa, não por desleixo, mas para ajudá-lo a superar o medo. Esse comportamento reflete a visão masculina de que amar é capacitar o filho para “dar certo” – seja na escola, no trabalho ou na vida. A psicologia do desenvolvimento masculino, conforme explorada por John Eldredge (2001), sugere que os homens tendem a priorizar a formação de caráter e a independência, preparando os filhos para os desafios do mundo.

No Brasil, o papel do pai é frequentemente associado à autoridade e à provisão. Um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2020) revela que, em famílias biparentais, os pais são vistos como modelos de responsabilidade e trabalho, influenciando diretamente a autoestima e a ambição dos filhos. A ausência paterna, por outro lado, está correlacionada a maiores índices de problemas escolares e comportamentais, conforme apontado em pesquisas de psicologia social (Silva & Ribeiro, 2019). O pai, com sua abordagem objetiva, muitas vezes vista como “dura” ou “grossa”, busca incutir resiliência e determinação, complementando o cuidado materno.

A Bíblia reforça esse papel em Efésios 6:4: “E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas educai-os na disciplina e na instrução do Senhor.” Aqui, o pai é chamado a equilibrar firmeza com amor, garantindo que sua orientação prepare o filho para a vida sem causar ressentimentos.

O Perigo do Desequilíbrio: O “Filho Pudim”

O relato usa a expressão “filho pudim” para descrever crianças criadas exclusivamente pela mãe, sugerindo que a superproteção pode torná-las frágeis. Estudos brasileiros corroboram essa ideia. Um artigo publicado na Revista Brasileira de Psicologia (2021) indica que crianças criadas em lares monoparentais maternos tendem a apresentar menor tolerância à frustração e maior dependência emocional, especialmente na adolescência. Isso não diminui o valor do amor materno, mas destaca a necessidade do contraponto paterno, que incentiva a autonomia e a superação de desafios.

Culturalmente, o Brasil enfrenta desafios com a ausência paterna. Dados do IBGE (2020) mostram que cerca de 20% das crianças brasileiras crescem sem a presença do pai, seja por divórcio, abandono ou outros fatores. Essa ausência pode levar a lacunas no desenvolvimento, como menor autoconfiança e maior propensão a comportamentos de risco, conforme apontado em estudos de psicologia familiar (Marcondes, 2018). A metáfora do “pudim” reflete essa fragilidade, mas também serve como um convite para que mães e pais (quando presentes) trabalhem juntos para criar filhos resilientes.

A Complementaridade dos Papéis

A força de uma criação equilibrada está na complementaridade entre o amor materno, que protege, e o amor paterno, que impulsiona. A Bíblia enfatiza essa parceria em Provérbios 1:8: “Ouve, meu filho, a instrução de teu pai e não deixes o ensino de tua mãe.” Essa passagem sugere que ambos os pais têm papéis distintos, mas igualmente valiosos, na formação do caráter do filho.

No contexto brasileiro, onde as dinâmicas familiares são diversas, a colaboração entre mãe e pai é ainda mais crucial. Um estudo da Universidade de São Paulo (USP, 2022) destaca que famílias em que ambos os pais participam ativamente da educação dos filhos tendem a criar jovens mais confiantes e emocionalmente estáveis. Mesmo em lares monoparentais, mães que buscam integrar elementos de disciplina e incentivo à autonomia – muitas vezes associados ao papel paterno – podem mitigar os efeitos da ausência do pai.

A história do toboágua ilustra essa complementaridade: enquanto a mãe protege, o pai desafia. Juntos, eles ajudam o filho a crescer com segurança e coragem. Quando apenas um desses elementos está presente, o equilíbrio pode ser comprometido, reforçando a importância de ambos os papéis.

Conclusão: 

A criação de um filho é uma jornada compartilhada, onde o amor materno oferece a base segura e o amor paterno fornece o impulso para o futuro. Como uma dança, esses papéis se entrelaçam para formar um ser humano preparado para enfrentar o mundo com confiança e resiliência. A Bíblia nos lembra que a educação dos filhos é uma responsabilidade sagrada, que exige equilíbrio entre proteção e desafio.

No Brasil, onde as estruturas familiares enfrentam desafios como a ausência paterna e a superproteção materna, a sabedoria de equilibrar esses amores é mais relevante do que nunca. Que mães e pais, juntos ou separados, reconheçam a beleza de seus papéis complementares e trabalhem para criar não “filhos pudins”, mas indivíduos fortes, prontos para “dar certo” e viver plenamente os propósitos de Deus.

Referências Bibliográficas

BÍBLIA SAGRADA. Provérbios 22:6, Provérbios 31:25-26, Efésios 6:4, Provérbios 1:8. Tradução João Ferreira de Almeida. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, s.d.

BOWLBY, J. Attachment and loss: Vol. 1. Attachment. New York: Basic Books, 1969.

ELDREDGE, J. Wild at heart: discovering the secret of a man’s soul. Nashville: Thomas Nelson, 2001.

FONSECA, C. Família, fofoca e honra: etnografia da moralidade no Brasil. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2005.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Estatísticas do registro civil. Rio de Janeiro, 2020. Disponível em: https://www.ibge.gov.br. Acesso em: 23 maio 2025.

MARCONDES, M. Famílias monoparentais e desenvolvimento infantil no Brasil. São Paulo: Cortez, 2018.

REVISTA BRASILEIRA DE PSICOLOGIA. Impactos da superproteção materna na adolescência. v. 73, n. 2, p. 45-60, 2021.

SILVA, J.; RIBEIRO, L. A ausência paterna e seus efeitos no desenvolvimento escolar. Psicologia em Estudo, v. 24, n. 3, p. 112-130, 2019.

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP). Dinâmicas familiares e bem-estar infantil. São Paulo: USP, 2022. Disponível em: https://www.usp.br. Acesso em: 23 maio 2025.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Compartilhe este conteúdo com os seus amigos