Herodias: A Mulher por Trás do Poder e da Intriga
Introdução: Uma Figura Enigmática
na História Bíblica
Imagine uma mulher cuja
influência moldou eventos históricos, mas cuja história é frequentemente
contada sob a sombra de outros. Herodias, uma figura proeminente no Novo
Testamento, é uma dessas personagens. Conhecida por seu papel na morte de João
Batista, ela é muitas vezes retratada como uma vilã manipuladora. Mas quem foi
realmente Herodias? O que a levou a tomar decisões tão drásticas? Este artigo mergulha
na vida dessa mulher complexa, explorando sua origem, suas ações e seu impacto,
com base em fontes históricas e bíblicas confiáveis. Prepare-se para conhecer
uma história de poder, ambição e escolhas que ecoam até hoje, com uma narrativa
clara e acessível que convida à reflexão.
Quem foi
Herodias?
Herodias foi uma nobre da
dinastia herodiana, uma família que dominou a política da Judeia sob o domínio
romano no século I. Nascida por volta de 15 a.C., ela era filha de Aristóbulo
IV e Berenice, e neta de Herodes, o Grande, o famoso rei que governou a Judeia
e foi responsável pela reconstrução do Segundo Templo em Jerusalém. Como membro
da dinastia herodiana, Herodias cresceu em um ambiente de intrigas políticas,
alianças estratégicas e lutas pelo poder.
Herodias é mais conhecida por sua
aparição nos Evangelhos de Mateus (14:1-12) e Marcos (6:14-29), onde é descrita
como a esposa de Herodes Antipas, tetrarca da Galileia e Pereia. Antes disso,
ela foi casada com Herodes Filipe, meio-irmão de Antipas, com quem teve uma
filha, Salomé. Seu segundo casamento com Herodes Antipas, no entanto, foi
controverso e atraiu críticas, especialmente de João Batista, que condenava a
união como contrária à lei judaica, já que Herodes Filipe ainda estava vivo.
Contexto
Histórico e Familiar
Para entender Herodias, é
essencial compreender o contexto da dinastia herodiana. Herodes, o Grande, seu
avô, era conhecido por sua crueldade e habilidade política, governando a Judeia
com mão de ferro sob a proteção de Roma. Após sua morte, seu reino foi dividido
entre seus filhos, criando um cenário de rivalidades e instabilidade. Herodes
Antipas, marido de Herodias, herdou a Galileia e a Pereia, enquanto outros
membros da família governavam territórios vizinhos.
Herodias, como mulher da elite,
tinha um papel limitado, mas estratégico, na política da época. Casamentos na
dinastia herodiana eram frequentemente arranjados para consolidar alianças ou
fortalecer laços familiares. Seu casamento com Herodes Filipe, um herdeiro sem
poder político significativo, pode ter sido menos vantajoso do que sua união
posterior com Antipas, que era um governante ativo. Essa transição reflete a
ambição de Herodias, que buscava manter ou ampliar sua influência em um mundo
dominado por homens.
O Papel
de Herodias na Morte de João Batista
O episódio mais conhecido
envolvendo Herodias é a execução de João Batista. Segundo os Evangelhos, João
criticava abertamente o casamento de Herodias com Herodes Antipas, apontando
que era ilícito, pois violava a lei mosaica (Levítico 18:16; 20:21). Essas
críticas enfureceram Herodias, que, segundo Marcos 6:19, "guardava rancor
contra João e queria matá-lo". A oportunidade surgiu durante um banquete,
quando Salomé, sua filha, dançou para Herodes Antipas e seus convidados. Encantado,
Antipas prometeu conceder qualquer desejo de Salomé. Sob a orientação de
Herodias, Salomé pediu a cabeça de João Batista em uma bandeja (Marcos
6:24-25).
Esse evento é frequentemente
usado para pintar Herodias como uma figura cruel e vingativa. No entanto, é
importante considerar o contexto: João Batista não era apenas um pregador
religioso, mas uma figura influente que atraía multidões e desafiava
autoridades. Suas críticas ao casamento de Herodias e Antipas ameaçavam a
legitimidade política do casal. Para Herodias, eliminar João pode ter sido uma
decisão estratégica para proteger sua posição e a de sua família.
Análise
do Caráter de Herodias
Herodias é frequentemente
retratada como manipuladora, mas essa visão simplista ignora as nuances de sua
posição. Como mulher em uma sociedade patriarcal, suas opções eram limitadas.
Ela não tinha poder direto, mas podia influenciar decisões por meio de sua
proximidade com Herodes Antipas e de sua filha, Salomé. Sua determinação em
silenciar João Batista sugere uma mulher pragmática, disposta a fazer o que
fosse necessário para proteger seus interesses.
Fontes históricas, como as obras
do historiador Flávio Josefo (Antiguidades Judaicas), oferecem uma
perspectiva complementar. Josefo confirma que Herodias era ambiciosa e que sua
influência sobre Antipas foi significativa. Ele também relata que, mais tarde,
a ambição de Herodias levou à queda de Antipas: ela o pressionou a pedir ao
imperador Calígula o título de rei, o que resultou no exílio de ambos em 39
d.C. Essa informação sugere que Herodias não era apenas uma figura reativa, mas
alguém que buscava ativamente moldar seu destino.
Exemplo
Relevante: Herodias e o Poder Feminino na História
Um paralelo interessante com
Herodias é Cleópatra, a rainha do Egito, que também viveu em um contexto de
intrigas políticas e usou sua influência para consolidar poder. Assim como
Cleópatra, Herodias navegou em um mundo dominado por homens, utilizando
estratégias como casamentos e manipulação política para alcançar seus objetivos.
Embora Cleópatra seja frequentemente celebrada por sua inteligência, Herodias é
julgada por suas ações, o que levanta questões sobre o viés de gênero na
interpretação histórica.
Por exemplo, a dança de Salomé,
instigada por Herodias, é um momento emblemático que demonstra como as mulheres
podiam exercer poder indireto. A narrativa bíblica sugere que Herodias usou a
beleza e o talento de sua filha como uma ferramenta para alcançar seu objetivo,
um reflexo de sua habilidade em manipular as circunstâncias a seu favor.
Reflexões
sobre Herodias
A história de Herodias nos
convida a refletir sobre temas como poder, moralidade e as escolhas que fazemos
em situações difíceis. Ela não é uma figura unidimensional; sua vida reflete as
complexidades de uma mulher navegando em um sistema que limitava sua autonomia.
Aqui estão algumas perguntas para reflexão:
- Ambição
versus Moralidade: Herodias agiu por ambição ou por necessidade
de proteger sua família? Como você avalia suas escolhas no contexto de sua
época?
- Influência
Feminina:
Como a história de Herodias desafia ou reforça estereótipos sobre o papel
das mulheres no poder?
- Consequências
das Escolhas: As
decisões de Herodias levaram à sua queda. Como nossas escolhas hoje podem
impactar nosso futuro?
- Julgamento
Histórico:
Por que Herodias é frequentemente vista como vilã? O que isso revela sobre
a forma como a história é contada?
Essas questões nos encorajam a
olhar além da superfície e considerar as motivações e os desafios enfrentados
por Herodias, estimulando uma reflexão mais profunda sobre poder e
responsabilidade.
Conclusão:
Um Versículo Temático
A história de Herodias nos lembra
que o poder, quando mal utilizado, pode levar a consequências trágicas. Um
versículo que encapsula essa lição é Gálatas 6:7: "Não se enganem:
de Deus não se zomba. Pois o que o homem semear, isso também colherá."
Herodias semeou intrigas para proteger sua posição, mas acabou enfrentando o
exílio. Sua vida nos desafia a refletir sobre como usamos nossa influência e as
escolhas que fazemos em busca de nossos objetivos.
Referências
Bibliográficas
BÍBLIA SAGRADA. Nova Versão
Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.
JOSEFO, Flávio. Antiguidades
Judaicas. Tradução de Vicente Dobroruka. São
Paulo: CPAD, 2000.
HARRINGTON,
Daniel J. The Gospel of Matthew. Collegeville: Liturgical Press, 1991.
SANDERS,
E. P. The Historical Figure of Jesus. Londres: Penguin Books, 1993.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 6023: Informação e documentação – Referências – Elaboração.
Rio de Janeiro: ABNT, 2018.
Augusto: O Primeiro Imperador de Roma e sua Relação com os Judeus
Caio Júlio César Otaviano,
conhecido como Augusto (63 a.C. – 14 d.C.), foi o primeiro imperador
romano, governando de 31 a.C. a 14 d.C.. Durante seu reinado, Roma
consolidou sua autoridade sobre a Judéia, mantendo uma política
relativamente tolerante em relação ao judaísmo, especialmente no início de seu
governo.
Augusto e
os Judeus
- Continuidade
da Política de Júlio César: Augusto manteve privilégios especiais
para os judeus, permitindo-lhes praticar sua religião e enviar
contribuições para o Templo de Jerusalém.
- Sacrifícios
no Templo: Em
retribuição ao respeito de Augusto pelo judaísmo, eram oferecidos sacrifícios
diários no Templo em sua honra. Enquanto Josefo afirma que
esses sacrifícios eram pagos pelo povo judeu, Filo de Alexandria
sustenta que o próprio Augusto fornecia os fundos para a compra de
animais.
Relação
com Herodes, o Grande
- Após
derrotar Marco Antônio em 31 a.C., Augusto manteve Herodes como
rei da Judéia, apesar de sua antiga aliança com Antônio.
- Como
sinal de favor imperial, Augusto expandiu os territórios de
Herodes, concedendo-lhe Traconites, Batanéia e Aurinites.
- Em
retribuição, Herodes rebatizou cidades em honra de Augusto:
- Cesaréia de Filipe (Panéias).
- Cesaréia Marítima (antiga Torre de Estrato).
- Sebaste (antiga Samaria, nomeada
com o equivalente grego de “Augusto”).
A
Sucessão de Herodes e a Administração da Judéia
- Augusto
interveio nas disputas familiares de Herodes, ajudando a definir sua
sucessão.
- Após
a morte de Herodes em 4 a.C., ele recusou-se a conceder o título
de rei a qualquer um de seus filhos, optando por dividir o território:
- Arquelau tornou-se etnarca
da Judéia, Samaria e Iduméia (mas foi deposto em 6 d.C.).
- Antipas governou como tetrarca
da Galiléia e Peréia.
- Filipe recebeu a Batanéia, Traconites, Aurinites
e Gaulonites.
- Em 6
d.C., Augusto removeu Arquelau devido a sua má administração e
transformou a Judéia em província romana, sob administração direta
de Roma.
- Nomeou
Públio Sulpício Quirino, governador da Síria, para organizar um censo
tributário.
O Censo
de Augusto e a Narrativa de Lucas
- O
evangelho de Lucas menciona um censo universal ordenado por
Augusto no tempo do nascimento de Jesus, que levou José e Maria
a Belém (Lc 2:1-2).
- No
entanto, o único censo confirmado historicamente ocorreu em 6
d.C., quando Quirino organizou o recenseamento da Judéia após a
deposição de Arquelau.
- Como
Herodes, o Grande, morreu em 4 a.C., muitos estudiosos
consideram improvável que o censo de Quirino tenha ocorrido no tempo do
nascimento de Jesus.
Conclusão
Augusto teve um impacto
profundo na história da Judéia. Embora tenha mantido políticas de
tolerância religiosa, sua administração também iniciou o domínio romano
direto sobre os judeus, o que mais tarde levaria a tensões e revoltas. Seu
nome ficou associado ao censo mencionado por Lucas, embora sua
cronologia seja historicamente debatida.
Ático: O Governador Romano na Época do Martírio de Simeão
Ático, possivelmente Tito
Cláudio Herodes Ático, foi governador romano da Judeia entre 99/100
e 102/103 d.C., durante o reinado do imperador Trajano. Seu nome
está ligado à história cristã porque, segundo Eusébio de Cesareia, foi sob sua
administração que ocorreu o martírio de Simeão, bispo de Jerusalém e primo
de Jesus Cristo.
Ático e o
Martírio de Simeão
A principal informação sobre
Ático vem da História Eclesiástica (3.32) de Eusébio de Cesareia,
que baseou-se em Hegesipo, um dos primeiros historiadores cristãos.
- Simeão,
filho de Clopas, era
o segundo bispo de Jerusalém, sucessor de Tiago, o irmão de
Jesus.
- Durante
o reinado de Trajano, o cristianismo começou a ser mais rigidamente
perseguido pelas autoridades romanas.
- Simeão,
já com 120 anos, foi acusado pelos romanos e condenado à morte por
crucificação.
Clopas e
a Família de Jesus
Hegesipo também menciona que Clopas
(ou Cleopas) era irmão de José, tornando Simeão primo de Jesus. Essa
informação reforça a ideia de que os primeiros líderes da Igreja de Jerusalém
eram parentes de Jesus e desempenhavam papel central na comunidade
cristã.
Ático e o
Contexto da Perseguição Cristã
- O
governo de Ático ocorreu em uma época de fortalecimento da perseguição
ao cristianismo, principalmente devido à política do imperador Trajano,
que via os cristãos como ameaça à ordem romana.
- Eusébio
indica que muitos cristãos foram mortos na época de Trajano,
incluindo Simeão.
- O
martírio de Simeão simboliza a transição da Igreja Judaico-Cristã para
uma Igreja mais gentílica, pois os parentes de Jesus começaram a perder
influência dentro da comunidade cristã.
Conclusão
Embora Ático não tenha deixado um
legado político marcante, seu nome permanece na história cristã devido ao martírio
de Simeão, um dos últimos líderes da Igreja primitiva com conexão direta
com a família de Jesus.
Atronges: O Pastor Rebelde que se Autoproclamou Rei
Atronges (ou Atrongeu) foi um pastor
judeu de origem humilde que, devido à sua força física e carisma,
liderou uma revolta popular contra Roma e os herodianos logo após a
morte de Herodes, o Grande, em 4 a.C..
A Revolta
de Atronges
Após a morte de Herodes, houve um
período de caos político e revoltas na Judeia, especialmente porque Roma
ainda não havia determinado quem governaria a região. Foi nesse contexto
que Atronges e seus quatro irmãos iniciaram um levante.
- Se
declarou rei e usou um diadema real, algo inédito para alguém sem linhagem nobre.
- Mobilizou
um exército de
camponeses descontentes.
- Atacou
tropas romanas e herodianas, promovendo emboscadas e ataques a
guarnições.
- Causou
sofrimento à população civil, pois seus seguidores pilhavam aldeias e
atacavam inimigos indiscriminadamente.
Derrota e
Captura
Apesar de causar problemas
significativos, Atronges não tinha estrutura militar nem apoio
suficiente para resistir às forças do governo.
- O
etnarca Arquelau, que havia assumido o governo da Judeia, liderou
a repressão contra os rebeldes.
- Atronges
e seus irmãos foram capturados e derrotados.
- A
rebelião foi sufocada, e seu movimento desapareceu sem deixar legado
político duradouro.
Importância
Histórica
- Atronges
não era um líder de grande influência política, mas sua revolta
mostra o nível de insatisfação popular com a dinastia herodiana e o
domínio romano.
- Seu
caso demonstra como a Judeia estava instável e cheia de grupos
dissidentes, o que ajudou a preparar o terreno para futuras revoltas, como
a Grande Revolta Judaica (66-73 d.C.).
Arquelau: O Etnarca Deposto da Judeia
Arquelau foi o filho mais
velho de Herodes, o Grande, e de Maltace, sua esposa samaritana. Após a
morte de seu pai, ele herdou o governo sobre Judeia, Samaria e Idumeia,
mas sua administração foi tão opressiva que acabou sendo deposto e exilado.
Ascensão
ao Poder (4 a.C.)
No testamento final de Herodes,
o Grande, Arquelau foi designado seu principal sucessor, substituindo seu
meio-irmão Antipas, que fora o herdeiro nos testamentos anteriores.
- Após
a morte de Herodes, Arquelau viajou a Roma para obter a
aprovação do imperador Augusto para seu governo.
- No
entanto, Antipas e outros membros da família contestaram a
sucessão, alegando que Herodes havia sido manipulado na mudança do testamento.
- Líderes
judeus também protestaram, pedindo que Roma assumisse o controle direto
da Judeia, devido aos abusos da dinastia herodiana.
Diante da situação instável, Augusto
decidiu um meio-termo:
- Arquelau
foi reconhecido como etnarca (líder do povo), mas sem o título de rei.
- Seu
irmão Antipas tornou-se tetrarca da Galileia e Peréia.
- Seu
outro irmão Filipe governou Batanéia, Traconites e Aurinites.
Governo e
Tirania
Arquelau governou de 4 a.C. a
6 d.C., mas, como seu pai, mostrou-se cruel e impopular.
- Reprimiu
revoltas brutalmente, chegando a matar 3.000 judeus no Templo
durante a Páscoa.
- Casou-se
com Glafira,
viúva de seu irmão Alexandre, violando a Lei Mosaica, o que
enfureceu os judeus.
- Construiu
a cidade de Arquelaide, perto de Jericó, tentando imitar as
grandiosas obras arquitetônicas de Herodes.
A insatisfação com seu governo
cresceu, e tanto judeus quanto samaritanos enviaram emissários a Roma
para pedir sua remoção.
Deposição
e Exílio (6 d.C.)
O imperador Augusto convocou
Arquelau a Roma para responder às acusações de má administração.
- Após
ouvir os argumentos, o imperador decidiu depô-lo e exilá-lo em Vienna,
na Gália (atual França).
- Todos
os seus bens foram confiscados.
- Roma,
então, transformou a Judeia em uma província romana, colocando-a sob
administração direta, com governadores nomeados pelo imperador.
Arquelau
e o Novo Testamento
- Arquelau
é citado em Mateus 2:22, onde é mencionado que, por causa de sua
crueldade, José, Maria e Jesus evitaram se estabelecer na Judeia e
foram para a Galileia.
- O
evangelista chama Arquelau de “rei”, embora ele fosse apenas etnarca,
um erro compreensível devido à sua posição de governante principal da
região.
Conclusão
Arquelau foi o último herdeiro
direto de Herodes a governar a Judeia, e sua deposição marcou o início
do governo direto romano sobre a região. Seu reinado foi breve, violento e
impopular, resultando em seu exílio e no fim da autonomia herodiana na
Judeia.
Aristóbulo III: O Último Sumo Sacerdote Asmoniano
Aristóbulo III foi o último
sumo sacerdote da dinastia asmoniana, uma figura jovem e carismática cuja
curta vida foi marcada por intrigas políticas e pelo medo de Herodes, o Grande,
de perder seu trono.
Origens e
Família
- Filiação: Filho de Alexandra,
neto de Aristóbulo II e bisneto de Alexandre Janeu.
- Irmã: Mariamne I, que se
casou com Herodes, o Grande.
Assim, Aristóbulo III era cunhado
de Herodes e, ao mesmo tempo, um rival legítimo ao poder, pois descendia da
linhagem real dos asmoneus.
Nomeação
ao Sumo Sacerdócio (35 a.C.)
Após a ascensão de Herodes ao
trono da Judeia com o apoio romano, ele indicou Ananel como sumo
sacerdote, ignorando Aristóbulo III, o legítimo herdeiro da função.
- Sua
mãe, Alexandra, indignada, conspirou com Cleópatra, rainha
do Egito, para pressionar Marco Antônio a interferir.
- Marco
Antônio, patrono de Herodes, obrigou o rei a remover Ananel e nomear
Aristóbulo III, que tinha apenas 17 anos na época.
A decisão fez do jovem Aristóbulo
um líder extremamente popular entre os judeus, o que logo despertou a paranoia
de Herodes.
Assassinato
por Herodes, o Grande
A crescente popularidade de
Aristóbulo preocupava Herodes, que temia que o povo se unisse para colocá-lo no
trono. Para eliminá-lo sem levantar suspeitas, Herodes planejou um “acidente”:
- Convidou
Aristóbulo para um banho em Jericó, onde havia piscinas
ornamentais.
- Durante
o evento, seus homens seguraram Aristóbulo debaixo d'água até que ele se
afogasse.
- O
assassinato ocorreu em 35 ou 34 a.C.
Após a tragédia, Alexandra
denunciou o crime a Cleópatra, que tentou convencer Marco Antônio a
punir Herodes, mas o rei conseguiu se justificar e evitar represálias.
Legado e
Significado
- Aristóbulo
III foi o último sumo sacerdote asmoniano, marcando o fim da
influência da dinastia macabeia no cenário político judaico.
- Sua
morte consolidou o domínio de Herodes, o Grande, que garantiu que
nenhum outro membro dos asmoneus desafiasse sua autoridade.
Aristóbulo II: O Penúltimo Rei-Sacerdote da Dinastia Asmoniana
Judas Aristóbulo II, membro da dinastia asmoneia
(ou macabeia), foi sumo sacerdote e rei dos judeus entre 67 e 63 a.C. Sua vida
e governo estão profundamente marcados pelas disputas de poder interno e pela
crescente interferência do Império Romano no Oriente Médio.
Origens e
Família
- Filiação: Filho mais novo de
Alexandre Janeu (103-76 a.C.), um dos últimos grandes reis da dinastia
asmoniana, e de Alexandra Salomé (Shelamzion).
- Irmãos: João Hircano II (irmão mais
velho e rival político).
Ascensão
ao Poder
Após a morte de sua mãe,
Alexandra Salomé, em 67 a.C., Aristóbulo depôs seu irmão mais velho, João
Hircano II, que havia assumido tanto o título de rei quanto o cargo de sumo
sacerdote. Sua vitória foi consolidada após derrotar as forças de Hircano em
Jericó.
Guerra
Civil com Hircano II
A disputa entre os dois irmãos
mergulhou a Judéia em uma guerra civil devastadora:
- Apoio
de Hircano II:
- Hircano encontrou apoio em Antípatro,
um idumeu influente, pai de Herodes, o Grande.
- Contou também com o reforço do exército
nabateu de Aretas III.
- Aristóbulo
se Refugia no Monte do Templo:
- Em meio à batalha, Aristóbulo e seus aliados
se refugiaram no Monte do Templo, que resistiu ao cerco inimigo.
- Pompeu
Entra em Cena (63 a.C.):
- A guerra chegou ao fim quando Pompeu,
general romano, foi convidado a intervir na disputa. Pompeu sitiou
Jerusalém, prendeu Aristóbulo e reinstalou Hircano II como sumo
sacerdote, removendo dele o título de rei.
Prisão e
Tentativa de Reconquista
Após sua derrota, Aristóbulo II
foi enviado a Roma como prisioneiro:
- Capturado
em 63 a.C.
Aristóbulo sofreu a humilhação de participar do triunfo de Pompeu em Roma,
desfilando acorrentado como líder derrotado.
- Escapa
e Revolta-se (57-56 a.C.):
- Escapou de Roma com seu filho Antígono
e organizou uma revolta na Judéia.
- Foi capturado pelas legiões romanas na
fortaleza de Maqueronte (posteriormente famosa pela prisão de João
Batista) e enviado novamente a Roma.
Últimos
Anos e Morte
Com o início da guerra civil
entre Júlio César e Pompeu, Aristóbulo foi libertado por César,
que o via como um possível aliado contra Pompeu. No entanto:
- Assassinato
(49 a.C.):
- Aristóbulo foi envenenado por partidários de
Pompeu antes de poder retomar um papel ativo na Síria.
- Seu filho Alexandre, também aliado de
César, foi executado em Antioquia.
Legado e
Significado
Aristóbulo II representou o
último esforço da dinastia asmoniana para preservar o poder em um contexto de
crescente controle romano. Sua derrota marcou o fim da independência política
judaica sob os macabeus.
- Seu
filho Antígono II, porém, assumiu brevemente o trono e o sumo
sacerdócio em 40-37 a.C., como o último líder da linhagem asmoniana.
Antípatro: Pai de Herodes, o Grande, e Arquitetor de uma Dinastia
Antípatro, conhecido como o pai
de Herodes, o Grande, foi um importante estadista e estrategista
político durante o período de transição da Judéia sob os asmonianos para a
dominação romana. Seu legado não apenas preparou o caminho para o reinado de
seu filho, mas também moldou a relação política entre Roma e a Palestina.
Origem e
Linha Genealógica
- Origem: Provavelmente idumeu
(edomita), de acordo com Flávio Josefo. Algumas fontes, no entanto,
apontam variações na narrativa:
- Nicolau de Damasco afirmou que sua linhagem
remontava a judeus retornados do exílio babilônico.
- Júlio Africano descreveu seu pai, também
chamado Herodes, como servo do templo de Apolo em Ascalon, capturado
pelos idumeus.
- Pais: Herodes (pai), governador
militar da Judéia sob Alexandre Janeu, rei asmoniano.
Carreira
Política
Antípatro começou a se destacar
no cenário político durante as rivalidades entre os últimos líderes asmonianos:
Aristóbulo II e Hircano II.
- Aliança
com Hircano II (67 a.C.):
- Reconhecendo a fraqueza de Hircano II,
Antípatro o apoiou estrategicamente.
- Convocou Aretas III, rei dos nabateus,
para fortalecer militarmente Hircano, derrotando Aristóbulo II
temporariamente.
- Parceria
com Roma (63 a.C.):
- Quando Pompeu invadiu a Judéia, Antípatro
alinhou-se com Roma, consolidando sua influência.
- Após a morte de Pompeu em 48 a.C., transferiu
sua lealdade a Júlio César.
- Administração
como Procurador da Judéia (47 a.C.):
- Nomeado por Júlio César, recebeu autoridade
para reconstruir as muralhas de Jerusalém, destruídas por Pompeu.
- Promoveu a nomeação de seus filhos, Fasael
e Herodes, como governadores militares de Jerusalém e da Galileia,
respectivamente.
- Assassinato
(43 a.C.):
- Vítima de intrigas no palácio do sumo
sacerdote Hircano II, foi envenenado durante um banquete.
Legado
- Antípatris:
Após sua ascensão ao trono, Herodes fundou a cidade de Antípatris em homenagem a seu pai. Situada ao norte de Jafa, era estrategicamente importante no caminho de Jerusalém a Cesaréia. Atos 23:31 relata que o apóstolo Paulo passou por essa cidade como prisioneiro sob custódia romana. - Fundação
da Dinastia Herodiana:
O legado de Antípatro foi a base para o reino de Herodes, que tornou a Judéia uma região-chave no império romano. Sua visão e habilidade política garantiram o surgimento de uma dinastia poderosa na Palestina.
Herodes Antipas: Tetrarca da Galileia e Peréia (4 a.C.–39 d.C.)
Herodes Antipas, conhecido nos
textos bíblicos como Herodes, o Tetrarca, foi o segundo filho de Herodes,
o Grande e de Maltace, uma samaritana. Governou a Galileia e a
Peréia, duas regiões da Palestina, durante o período do Novo Testamento. Sua
liderança e envolvimento em eventos religiosos e políticos significativos
fizeram dele uma figura central nos relatos evangélicos.
Origem e
Títulos
- Nascimento: Cerca de 20 a.C.
- Pais: Herodes, o Grande, e
Maltace.
- Título: Tetrarca (governador de uma
quarta parte do reino de seu pai).
- Territórios
Governados:
Galileia (ao norte de Israel) e Peréia (a leste do Jordão).
- Moedas
emitidas:
Referiam-se a ele simplesmente como Herodes, omitindo retratos ou efígies
humanas para respeitar as sensibilidades judaicas.
Relações
Familiares e Conflitos
- Casou-se
inicialmente com a filha de Aretas IV, rei nabateu, garantindo
proteção contra ataques árabes à sua região.
- Durante
uma viagem a Roma, apaixonou-se por Herodíades, esposa de seu
meio-irmão Herodes Filipe (não confundir com o tetrarca Filipe). O
casamento entre Herodes Antipas e Herodíades, após o divórcio de suas
respectivas uniões, provocou escândalo e repercussões políticas.
Conflito
com Aretas IV
O divórcio de Antipas de sua
primeira esposa enfureceu o pai dela, Aretas IV, que iniciou uma guerra
contra Antipas em 36 d.C. O exército de Antipas foi derrotado, e a derrota foi
interpretada pelos judeus como um castigo divino pela execução de João Batista.
Interação
com João Batista
- João
Batista
criticou publicamente o casamento de Antipas com Herodíades, alegando que
violava a Torá.
- Temendo
que as críticas públicas de João pudessem incitar revoltas, Antipas
ordenou sua prisão em Maqueronte, uma fortaleza na Peréia.
- O
relato evangélico associa a execução de João aos planos de vingança de
Herodíades, que teria manipulado Antipas durante uma celebração de seu
aniversário.
- Segundo
os Evangelhos, a filha de Herodíades, Salomé, pediu a cabeça de
João como recompensa por sua dança para Antipas. Embora Flávio Josefo
apresente motivos políticos para a morte de João, os relatos não se
excluem mutuamente.
Interação
com Jesus de Nazaré
Herodes Antipas é mencionado
diversas vezes em relação a Jesus:
- Medo
de Antipas: Os
Evangelhos Sinópticos relatam que ele temia que Jesus fosse João Batista
ressuscitado.
- Lucano
(Lc 13,31-32):
Jesus o chamou de “essa raposa” ao saber que Antipas o perseguia.
- Julgamento
de Jesus: Em Lucas
23,7-12, Pôncio Pilatos enviou Jesus a Antipas, que estava em
Jerusalém durante a Páscoa. Embora esperasse que Jesus realizasse um
milagre, Antipas foi frustrado pelo silêncio de Jesus e devolveu-o a
Pilatos, zombando dele.
Queda e
Exílio
- A
ambição de Herodíades levou Antipas a pedir ao imperador Calígula o
título de rei, como o dado a Herodes Agripa I, irmão de Herodíades.
- Em
resposta às acusações de traição feitas por Agripa, Calígula depôs Antipas
em 39 d.C. e o exilou em Lyon, na Gália (atual França).
- Antipas
morreu no exílio, possivelmente executado por Calígula.
Legado
Herodes Antipas desempenhou um
papel significativo no contexto do Novo Testamento. Seus projetos
arquitetônicos, como a reconstrução de Séforis e a fundação de Tiberíades
à beira do Mar da Galileia, mostram sua ambição como governante. Ele ficou
imortalizado na tradição cristã como o líder que esteve diretamente envolvido
na morte de João Batista e nas humilhações durante o julgamento de Jesus,
refletindo seu conflito entre poder político e moralidade religiosa.
Antígono (Matatias), Filho de Judas Aristóbulo II
Título Oficial: Matatias Sumo Sacerdote (em moedas
hebraicas) e Antígono Rei (em moedas gregas).
Período de Reinado: 40–37 a.C.
Dinastia: Último rei-sacerdote da dinastia asmoniana.
Origem e
Ascensão
Antígono era filho de Judas Aristóbulo II, líder da
dinastia asmoniana, e sobrinho de Hircano II, com quem
rivalizou pelo controle da Judéia. Em 40 a.C., com o apoio dos
partos, Antígono conseguiu depor Hircano II. Os partos, então dominantes na
região, o ajudaram a assumir os títulos de sumo sacerdote e rei.
Como governante, suas moedas retratam sua dupla função, com inscrições
destacando tanto sua posição política quanto religiosa.
Conflito
com Herodes
A ascensão de Antígono coincidiu com a nomeação de Herodes
como rei da Judéia por Marco Antônio, representando os
interesses de Roma. Durante os três anos seguintes, Antígono travou uma intensa
luta contra Herodes para manter o controle sobre Jerusalém.
O Cerco de Jerusalém (37 a.C.)
Com apoio do general romano Sósio, Herodes cercou Jerusalém
em 37 a.C. Após um intenso conflito, Herodes, auxiliado pelas
legiões romanas, conseguiu conquistar a cidade.
Captura e
Execução
·
Antígono foi capturado por Sósio,
que zombou dele ao chamá-lo de "Antígona" (uma versão feminina de seu
nome).
·
Ele foi levado a Antioquia,
onde Marco Antônio ordenou sua execução. Segundo Josefo, essa
decisão foi influenciada por Herodes, que subornou Marco
Antônio para garantir a morte de Antígono e eliminar seu maior rival político.
Antígono foi executado por decapitação, um ato sem precedentes na história
romana, já que ele foi o primeiro rei deposto a sofrer tal destino pelas mãos
dos romanos.
Significado
e Declínio dos Asmonianos
A morte de Antígono marcou o fim do governo secular e religioso dos
asmonianos, uma dinastia que havia governado a Judéia desde os tempos de Simão
Macabeu no século II a.C. Sua decapitação também simbolizou a
transferência definitiva do poder político para a autoridade romana e seus
representantes locais, como Herodes.
Apesar de seu reinado curto, Antígono ficou como o último símbolo da
resistência asmoniana contra Roma e contra a dominação de Herodes,
representando o declínio final de uma dinastia que havia iniciado como líder da
independência judaica.
Anás (ou Anas), Filho de Séti
Nome em Hebraico: Hanã ou Hanin
Época de Influência: Século I d.C.
Origem Familiar: Patriarca de uma poderosa dinastia sacerdotal
em Jerusalém.
Carreira
como Sumo Sacerdote
Anás foi nomeado sumo sacerdote em 6 d.C. pelo governador
romano da Síria, Quirino, após a destituição de Joazar,
filho de Boeto. Ele ocupou o cargo até 15 d.C., quando foi
removido por Valério Grato, prefeito romano da Judeia. Embora
sua gestão como sumo sacerdote tenha terminado oficialmente, Anás permaneceu
extremamente influente, sendo o patriarca de uma família sacerdotal que dominou
o cenário religioso de Jerusalém por décadas.
Dinastia
de Anás
Anás estabeleceu uma verdadeira dinastia sacerdotal:
1. Cinco
de seus filhos ocuparam o sumo sacerdócio entre 16 e 66 d.C.
2. Seu
genro, José Caifás, foi sumo sacerdote de 18 a 36 d.C.
— um mandato excepcionalmente longo.
3. Um
de seus netos também assumiu o cargo mais tarde.
Essa influência fez da casa de Anás uma das mais poderosas instituições
judaicas do século I d.C.
Atividade
Pós-Afastamento
Embora não fosse mais oficialmente o sumo sacerdote, Anás continuou sendo
uma figura central nos assuntos religiosos e políticos:
·
Evangelho de Lucas (3,2):
Indica que Anás e Caifás dividiram o poder, embora legalmente apenas um pudesse
ocupar o cargo de sumo sacerdote. É possível que Anás tenha sido o poder real
por trás de Caifás.
·
Evangelho de João (18,13-24):
Mostra Jesus sendo levado primeiro à casa de Anás antes de ser enviado a
Caifás.
·
Atos dos Apóstolos (4,6):
Relata Anás participando dos interrogatórios de Pedro e João pelo Sinédrio.
Contribuições
e Controvérsias
Interrogatório de Jesus
Anás desempenhou um papel importante nos eventos que levaram à crucificação
de Jesus:
·
Ele realizou um interrogatório inicial antes de
encaminhar Jesus a Caifás.
·
Esse papel evidencia sua contínua autoridade
dentro da comunidade judaica, mesmo após ter deixado o cargo oficial de sumo
sacerdote.
Conflitos com os Cristãos Primitivos
O envolvimento de Anás na oposição aos primeiros líderes cristãos, como
Pedro e João, é emblemático de sua postura conservadora, tentando proteger o status
quo religioso e político.
Família e
Inúmeros Sumo Sacerdotes
Durante o período posterior a Anás, sua família manteve o controle político
do sumo sacerdócio:
1. Eleazar,
Filho de Anás (16-17 d.C.): Assumiu o cargo após o pai, mas pouco se
sabe sobre ele.
2. Simão,
Filho de Camito (17-18 d.C.): Teve um breve mandato marcado por sua
desqualificação devido a impurezas rituais.
3. José
Caifás (18-36 d.C.): O genro de Anás manteve-se por um período recorde
no cargo, consolidando a influência da casa de Anás.
Essa sequência de nomeações demonstra que, mesmo não ocupando diretamente o
cargo, Anás manteve controle sobre os destinos do sumo sacerdócio.
Legado
Anás é lembrado por seu papel central em um dos períodos mais turbulentos da
história judaica. Sua liderança influente marcou o início do século I d.C., e
sua dinastia moldou o sumo sacerdócio até o fim da Primeira Guerra
Judaico-Romana.
Apesar de ser criticado por sua associação aos eventos que culminaram na
morte de Jesus e na repressão dos primeiros cristãos, Anás permanece como um
exemplo de como o poder político e religioso se entrelaçaram na Judeia sob a dominação
romana.
Ananel (Hanamel)
Contexto Histórico e Nomeação:
Ananel (ou Hanamel) foi um sumo sacerdote nomeado por Herodes, o Grande,
para substituir o último etnarca asmoneu, Hircano II. Sua indicação
ocorreu em um momento de transição política significativa, quando a linhagem
asmoneana perdeu o controle do sumo sacerdócio devido às ações de Antígono
(que mutilou Hircano para torná-lo inelegível ao cargo).
Origem e
Contradições
A identidade de Ananel varia nos
relatos:
- Flávio
Josefo:
- Inicialmente descrito como um sacerdote
obscuro de origem babilônica, escolhido por Herodes para evitar
qualquer ameaça ao seu governo.
- Mais tarde, Josefo contradiz sua
caracterização, descrevendo-o como proveniente de uma família de
sacerdotes de alta reputação e um amigo estimado do rei.
- Talmude
(Mixná):
- Ananel é identificado como Hanamel,
possivelmente um sacerdote de origem egípcia, e não babilônica,
como inicialmente afirmado por Josefo.
Essa controvérsia sobre sua
origem reflete as tensões sociais e políticas em torno da escolha de líderes
religiosos fora da elite tradicional judaica de Jerusalém.
Primeiro
Mandato como Sumo Sacerdote (37-35 a.C.)
Ananel assumiu o sumo sacerdócio
logo após Herodes consolidar o poder. Ele parecia uma escolha estratégica para
evitar movimentos de oposição entre os judeus, dado seu perfil discreto e sua
ausência de vínculos diretos com a linhagem asmoneana.
Substituição por Aristóbulo III:
- Alexandra, mãe de Aristóbulo III e
sogra de Herodes, utilizou suas conexões com Cleópatra e Marco
Antônio para pressionar pela deposição de Ananel.
- Sob
pressão política romana, Herodes removeu Ananel e nomeou Aristóbulo III
como sumo sacerdote, simbolizando o retorno temporário da linhagem
asmoneana ao poder religioso.
Retorno
ao Sumo Sacerdócio (34 a.C.)
Após o assassinato de Aristóbulo
III (em um complô organizado por Herodes), Ananel foi reinstalado como sumo
sacerdote. Sua segunda nomeação destaca a prática comum durante o período
herodiano e romano de fazer e desfazer nomeações para atender aos interesses
políticos dos governantes.
Legalidade da Deposição:
Josefo critica a remoção de Ananel, observando que o cargo de sumo sacerdote
era vitalício pela lei judaica. Contudo, sob os reis herodianos e governadores
romanos, as trocas de sumos sacerdotes tornaram-se frequentes, limitando o
poder e a independência desses líderes religiosos.
O Papel
do Sumo Sacerdote sob Herodes
- Durante
o período herodiano, o sumo sacerdote exercia um papel simbólico e tinha
menos autonomia do que no período da administração romana direta.
- Quando
não havia um governante judeu, como sob os procuradores romanos, o sumo
sacerdote frequentemente acumulava a liderança religiosa e secular,
ganhando maior influência política e social.
Legado
Ananel é lembrado como um exemplo
das dinâmicas políticas que marcaram o sumo sacerdócio durante o governo de
Herodes e a posterior administração romana. Sua trajetória ilustra como o cargo
foi reduzido a uma posição politicamente manipulada, enquanto o verdadeiro
poder religioso e secular estava nas mãos de governantes estrangeiros ou de
elites alinhadas ao governo imperial.
Anã, Filho de Anás
Identidade e Contexto Histórico:
Anã, também chamado Anano ou Hanan, foi o quinto filho de Anás,
filho de Séti, a ocupar o posto de sumo sacerdote em Jerusalém. Nomeado
em 62 d.C. pelo rei Agripa II, sua nomeação ocorreu durante um
momento de transição de poder, após a morte do procurador romano Pórcio
Festo e antes da chegada de seu sucessor, Albino.
Pontificado
e Morte de Tiago
- Posição
Religiosa:
Anã era um saduceu, membro de uma facção aristocrática e conservadora, conhecida por sua rigidez em questões políticas e religiosas. - Execução
de Tiago:
Durante o breve período em que ocupou o cargo (três meses), Anã aproveitou a ausência de autoridade romana para convocar o sinédrio e organizar a execução de Tiago, irmão de Jesus, "chamado Cristo". Tiago e outros críticos de Anã foram apedrejados até a morte. - Este ato violento gerou escândalo entre
judeus devotos de Jerusalém, que relataram o ocorrido a Agripa II e ao
novo procurador Albino.
- Consequência: Agripa, diante da
indignação popular e política, destituiu Anã do cargo.
Papel na
Guerra Judaica
- Após
a eclosão da Grande Revolta Judaica (66-70 d.C.), Anã desempenhou
um papel de destaque:
- Foi nomeado, ao lado de José, filho de
Gorion, para supervisionar a defesa de Jerusalém.
- Tornou-se um dos líderes pacifistas, buscando
equilibrar as tensões internas entre facções judaicas.
- Lutou contra os rebeldes extremistas, como os
sicários, e se opôs à liderança de Simão, filho de Giora,
obrigando-o a se refugiar temporariamente em Massada.
- Captura
e Morte:
Apesar de seus esforços, Anã foi morto pelos sicários, que invadiram Jerusalém com a ajuda de aliados idumeus. Seu corpo foi deixado insepulto, exposto aos animais, um fim visto como desonroso.
Retratos
Contrastantes de Anã
- Nas
Obras de Flávio Josefo:
- Em Antiguidades Judaicas, Anã é
descrito como violento e impulsivo, um líder que usava de sua
posição para suprimir opositores e impor sua visão religiosa e política.
- Já em Guerra dos Judeus, Josefo elogia
Anã como um homem íntegro, generoso, equilibrado, e um líder pacifista
que buscava o bem-estar do povo acima de interesses próprios.
- Análise
Historiográfica:
A disparidade pode refletir: - Contextos de escrita diferentes: A crítica em Antiguidades
Judaicas pode ser mais severa devido ao contexto de Josefo como
crítico da elite sacerdotal judaica.
- Influência dos eventos da guerra: A morte brutal de Anã e
seu papel pacificador podem ter suavizado o julgamento de Josefo em Guerra
dos Judeus.
- Interpretação pessoal de Josefo: Seu ódio pelos zelotes,
os inimigos políticos de Anã, pode ter influenciado o relato favorável.
Legado
Anã é lembrado como uma figura
ambígua na história judaica. Por um lado, ele aparece como responsável por
ações extremas, incluindo a morte de Tiago; por outro, foi um líder resiliente
em tempos de crise e oposição interna. Sua trajetória reflete os conflitos
intensos de uma época marcada pela instabilidade política e religiosa que
culminaria na destruição de Jerusalém e do Segundo Templo.
Alexandra - Princesa Asmoniana
Parentesco:
- Filha
de Hircano II (etnarca e sumo sacerdote da Judeia).
- Esposa
de Alexandre (filho de Aristóbulo II, irmão de Hircano II).
- Mãe
de Mariamna I, a segunda esposa de Herodes, o Grande.
- Avó
de Aristóbulo III, cuja pretensão ao sumo sacerdócio foi central em
sua relação turbulenta com Herodes.
Conflito
com Herodes
Alexandra nunca aceitou
plenamente o casamento de sua filha Mariamna com Herodes, considerando-o um
"plebeu" indigno da nobre linhagem asmoneia. Este descontentamento
alimentou uma rivalidade de longa duração com:
- Cipro, mãe de Herodes.
- Salomé
I,
irmã de Herodes.
Os
Conflitos pela Liderança Religiosa
Alexandra desejava assegurar
posições de poder para seu filho, Aristóbulo III. Ela obteve:
- Intervenção
de Cleópatra e Marco Antônio:
- Alexandra, amiga próxima de Cleópatra,
convenceu a rainha egípcia a interceder com Marco Antônio, forçando
Herodes a conceder a Aristóbulo III o sumo sacerdócio.
- Tragédia
e Conspiração de Herodes:
- Herodes, desconfiado e ciumento da
popularidade de Aristóbulo, armou um "acidente" em que
Aristóbulo, com apenas 17 anos, foi afogado em uma piscina.
Tentativas
de Resistência
- Após
a morte de Aristóbulo, Alexandra novamente buscou apoio de Cleópatra e
Marco Antônio.
- Herodes
conseguiu escapar das acusações de assassinato ao subornar Marco Antônio.
A Queda
de Alexandra
Os últimos anos de Alexandra
foram marcados por tragédias pessoais e traição:
- Execução
de Mariamna (29 a.C.):
- Acusada de adultério, Mariamna foi condenada
por Herodes.
- Alexandra, temendo por sua própria vida, agiu
publicamente contra a filha, afastando-se de seu lado.
- Planejamento
e Execução:
- Alexandra tentou tomar o trono após a morte
de Mariamna, mas foi descoberta por Herodes.
- Ela foi executada em 28 a.C., marcando o fim
de sua tentativa de preservar o domínio asmoneu.
Avaliação
Histórica
- Caráter
e Ambição:
Alexandra é descrita como ardilosa e destemida, mas seus esforços eram
frequentemente impulsivos e mal-sucedidos, contrastando com a dignidade de
sua filha Mariamna e a generosidade de seu pai, Hircano II.
- Legado
de Lutas Políticas: A vida de Alexandra exemplifica a queda da
dinastia asmoneia e os conflitos internos que marcaram a transição de
poder para a liderança herodiana na Judeia.
Tibério Júlio Alexandre
Nome Completo: Tibério Júlio Alexandre
Cargo Inicial: Procurador romano na Judeia (46–48 d.C.)
Origem: Judaica alexandrina
Parentesco: Filho do alabarca Alexandre (superintendente da
alfândega) e sobrinho do filósofo judeu Filo de Alexandria.
Abandono do
Judaísmo
Tibério Júlio Alexandre nasceu em uma família abastada e influente da
diáspora judaica em Alexandria. No entanto, ele renunciou à fé judaica
e adotou o estilo de vida romano.
·
É dito que seu tio, Filo, tentou convencê-lo a
permanecer no judaísmo, mas não obteve êxito.
·
Essa decisão o permitiu ingressar no serviço
público do império romano, onde teve uma carreira de destaque.
Procurador na
Judeia
Durante seu período como procurador:
·
Enfrentou distúrbios políticos
conduzidos por Jacó e Simão, filhos de Judas, o Galileu
(fundador da facção revolucionária zelota).
o
Capturou ambos e ordenou suas crucificações,
exemplificando a política romana de repressão aos movimentos nacionalistas
judeus.
·
Foi contemporâneo da grande fome
mencionada em Atos 11:28-30, no reinado de Cláudio.
o
Durante essa crise, as igrejas cristãs enviaram
socorro aos irmãos na Judeia por meio de Paulo e Barnabé.
o
A rainha Helena de Adiabena, uma convertida ao
judaísmo, também trouxe ajuda humanitária ao povo de Jerusalém.
Carreira Posterior
Após seu mandato na Judeia, Alexandre ascendeu rapidamente:
1. Prefeito
do Egito: Nomeado por Nero, governou a província que era crucial para
o abastecimento de cereais do império.
o
Durante seu mandato, o rei Agripa II foi
pessoalmente a Alexandria para parabenizá-lo.
2. Aliança
com Vespasiano:
o
Quando Vespasiano foi proclamado imperador (69
d.C.), Alexandre garantiu o apoio das legiões egípcias e da população.
3. General
de Tito no cerco de Jerusalém (70 d.C.):
o
Serviu como conselheiro e prefeito dos
acampamentos (praefectus castrorum) durante o cerco e destruição de
Jerusalém.
Legado
Tibério Júlio Alexandre teve uma brilhante carreira administrativa e
militar, sendo um dos poucos judeus helenizados a alcançar tal
prestígio no governo romano. Seus descendentes continuaram ocupando posições
importantes no império. Contudo, ele foi amplamente criticado por abandonar
suas raízes e agir diretamente contra sua própria herança cultural durante a
repressão romana à Judeia.
Lucceio Albino
Nome: Lucceio Albino
Cargo: Procurador da Judeia
Período de Governo: 62 a 64 d.C.
Origem: Oficial romano nomeado pelo imperador Nero para administrar a
Judeia durante o período de turbulência no final do Segundo Templo.
Características
e Administração
Lucceio Albino é descrito como um
administrador corrupto e ganancioso. Sob sua liderança:
- Corrupção
e Suborno:
Ele aceitava subornos de todos os setores da sociedade, incluindo o
ex-sumo sacerdote Ananias e os violentos sicários (assassinos zelotas).
- Abuso
de Poder:
Apropriava-se tanto de recursos públicos quanto de propriedades privadas.
- Libertação
de Prisioneiros:
Prisioneiros eram libertados mediante resgate, reforçando o clima de
impunidade. Ao final de sua procuradoria, esvaziou as prisões ao executar
os criminosos mais perigosos e liberar os demais, criando mais
instabilidade para a já devastada população.
Essas práticas contribuíram
significativamente para a deterioração do cenário político e social da Judeia
no período.
Relação
com o Profeta "Jesus, Filho de Ananias"
Albino ficou conhecido também por
seu contato com um profeta apocalíptico chamado Jesus, filho de Ananias:
- Este
homem havia sido entregue às autoridades romanas pelos líderes judeus
devido ao seu comportamento alarmante e visão profética destrutiva.
- Albino
mandou açoitar e interrogar Jesus. Diante da recusa do profeta em
responder às perguntas, declarou-o como louco e o libertou, acreditando
que não representava uma ameaça significativa.
Fim de
sua Carreira e Morte
Após deixar a Judeia, Albino
tornou-se governador da Mauritânia (norte da África), onde continuou
explorando sua posição para ganho pessoal. No entanto, sua fortuna mudou em 69
d.C., durante o ano dos quatro imperadores, quando os seguidores de Vitélio,
rival de Otão, o assassinaram no curso da luta pelo poder imperial.
Legado
Lucceio Albino é lembrado
principalmente como um exemplo do declínio administrativo romano durante o
final da dinastia Júlio-Claudiana. Sua corrupção, impunidade e negligência
exacerbaram os problemas sociais e contribuíram para a crescente instabilidade
que culminaria na Grande Revolta Judaica de 66-70 d.C.
Agripa II (Marco Júlio Agripa)
Nome: Marco Júlio Agripa, conhecido como Agripa II
Pais: Herodes Agripa I e Cipros
Tribo: Não possui afiliação tribal direta, sendo da dinastia
herodiana, com origens idumeias.
Época: Viveu de aproximadamente 27 d.C. a 92/93 d.C.
Origem da Família: Descendia de Herodes, o Grande, um rei
cliente do Império Romano na Judeia.
Significado do Nome: Agripa (do latim) não possui uma etimologia
clara, podendo estar associado a um nome de família ou prática militar romana.
Vida e Contexto
Histórico
Agripa II não assumiu imediatamente o trono de seu pai, Herodes Agripa I,
após sua morte em 44 d.C., devido à sua juventude (17 anos) e à relutância de
Cláudio, o imperador romano, em confiar a ele tal responsabilidade. Ele
permaneceu em Roma, onde concluiu sua educação.
Inicialmente, recebeu em 50 d.C. o pequeno reino de Herodes de Cálcis, junto
com a autoridade sobre o Templo de Jerusalém e o poder de nomear e destituir
sumos sacerdotes. Em 53 d.C., Cláudio expandiu seu domínio ao transferir a
antiga tetrarquia de Filipe e territórios adicionais, como Tiberíades e
Tariquéias, aumentando assim seu poder territorial.
Relações Pessoais
e Administração
Agripa II foi muito influenciado por sua irmã Berenice, com quem havia
rumores de um relacionamento incestuoso, embora seja difícil verificar a
veracidade dessas afirmações. Ele se comprometeu a proteger os interesses
romanos e a honrar os costumes judaicos, equilibrando uma dualidade cultural
como judeu helenizado.
Apoiava as práticas judaicas ao insistir que os maridos de sua irmã fossem
circuncidados e mostrou interesse pela Lei Mosaica. Agripa também patrocinou
obras públicas e religiosas, como o calçamento das ruas de Jerusalém e a
manutenção de trabalhadores após a conclusão do Templo de Herodes.
Relação com o
Cristianismo
Agripa II é mencionado no Livro de Atos (25-26), onde,
junto de Berenice, ouviu a defesa de Paulo diante do procurador romano Pórcio
Festo. No encontro, Agripa parece mostrar algum interesse intelectual pela fé
cristã, mas seus comentários indicam ironia e resistência ao cristianismo. Sua
observação: "Em pouco tempo você pensa em fazer de mim um cristão!"
reflete mais uma tentativa de encerrar a conversa de forma diplomática do que
um verdadeiro interesse em conversão.
Papel na Grande
Revolta Judaica
Agripa inicialmente tentou mediar entre os romanos e os judeus durante o
início da revolta em 66 d.C., mas acabou alinhando-se plenamente com Roma
quando a guerra escalou. Ele acompanhou Tito, futuro imperador, no cerco de
Jerusalém e foi recompensado com novos territórios no norte do Líbano.
Vida Posterior e
Morte
Após a guerra, Agripa e sua irmã Berenice viveram algum tempo em Roma, onde
ele foi elevado ao cargo de pretor por Tito. Ele morreu no terceiro ano do
imperador Trajano (provavelmente em 100 d.C.) ou, de forma mais provável, em
92/93 d.C.
Legado
Agripa é lembrado como um líder dividido entre suas raízes judaicas e a
lealdade ao Império Romano. Em seu contato com Flávio Josefo, trocou
correspondência elogiando os relatos históricos do historiador sobre a guerra
judaica, indicando sua preocupação com o registro histórico.
Herodes Agripa I
Herodes Agripa I (10 a.C. – 44 d.C.) foi um governante judeu da dinastia
herodiana, neto de Herodes, o Grande, e um protagonista central na política e
religião do século I. Seu reinado marcou um breve retorno à unificação do
território sob domínio judaico, comparável ao governo de seu avô, enquanto
buscava equilibrar influências judaicas e helênicas.
Nome e Família
·
Nome Completo: Herodes Agripa
I.
·
Pai: Aristóbulo IV, executado
por seu pai, Herodes, o Grande.
·
Mãe: Berenice, filha de Salomé
(irmã de Herodes) e Costobar (também executado por Herodes).
·
Filhos: Incluem Berenice,
Drusila e Agripa II, último rei herodiano da Judéia.
Juventude e Educação
Nascido em 10 a.C., Agripa foi enviado a Roma ainda criança, onde foi
educado na corte imperial. Em Roma, tornou-se amigo íntimo de figuras
proeminentes, como Druso (filho do imperador Tibério) e Caio Calígula. Sua vida
dissoluta e pródiga na alta sociedade romana levou-o a contrair grandes dívidas
e sofrer períodos de ostracismo, inclusive um breve exílio na Iduméia e prisão
por ordem de Tibério.
Carreira e Ascensão ao Poder
·
Reinado na Judéia:
Após a ascensão de Calígula ao trono em 37 d.C., Agripa foi nomeado tetrarca
dos territórios que pertenciam a Filipe e Herodes Antipas, recebendo o título
de rei. Em 41 d.C., com o apoio de seu amigo Cláudio, tornou-se governante de
toda a Judéia, Samaria e territórios adjacentes, restaurando o controle sobre
uma área comparável à do reino de Herodes, o Grande.
·
Política e Religião:
Herodes Agripa tentou unir os elementos judaicos e romanos sob seu domínio. Foi
um defensor do judaísmo na Judéia, respeitado pelos fariseus e pela população.
Ele financiou projetos no Templo e seguiu rituais religiosos judaicos, mas
também promoveu valores helênicos fora de seu território, patrocinando obras em
cidades como Cesaréia e Beirute, construindo banhos, teatros e organizando
jogos públicos.
·
Conflitos com Roma:
Embora favorecido pelos imperadores, Agripa enfrentou tensões com os romanos. A
construção de uma muralha em Jerusalém foi interrompida por ordem do imperador
Cláudio, que também viu com desconfiança uma conferência de reis aliados
convocada por Agripa.
Retrato Bíblico e Relato Histórico
O livro de Atos dos Apóstolos apresenta um retrato mais crítico de
Herodes Agripa:
1. Perseguição
aos Cristãos:
Em Atos 12, Agripa ordena a execução de Tiago, filho de Zebedeu, e a prisão de
Pedro, que é miraculosamente libertado por um anjo. Esses atos são descritos
como tentativas de agradar a liderança judaica conservadora.
2. Morte
de Agripa:
No mesmo capítulo, é narrado que Agripa, ao ser proclamado "um deus"
por seus ouvintes durante um discurso em Cesaréia, foi punido imediatamente por
um anjo do Senhor e morreu, "comido por vermes".
Flávio Josefo, contudo, descreve a morte de Agripa de forma mais elaborada.
Vestindo um manto prateado que brilhava ao sol, Agripa recebeu aclamações
divinas dos presentes, mas, ao perceber uma coruja — interpretada como sinal de
mau presságio —, caiu gravemente enfermo e morreu dias depois, reconhecendo o
juízo de Deus.
Legado e Avaliação
Herodes Agripa é lembrado de forma ambígua:
·
Para os judeus, foi um governante respeitado que
buscava manter a identidade religiosa e apoiar sua nação.
·
Para os cristãos, ficou marcado por sua
perseguição aos primeiros seguidores de Cristo.
·
Para os romanos, ele era um aliado cauteloso,
cuja diplomacia nem sempre inspirava plena confiança.
Após sua morte, a Judéia voltou ao controle direto de procuradores romanos,
marcando o início de um período de tensões crescentes que culminaram na Revolta
Judaica (66-73 d.C.).
Ágabo
Ágabo foi um profeta judeu-cristão mencionado
duas vezes no livro de Atos dos Apóstolos,
destacando-se como uma figura representativa das manifestações carismáticas da
Igreja primitiva. Sua atuação profética e o contexto de suas mensagens oferecem
um vislumbre da espiritualidade e do ambiente comunitário do cristianismo
nascente na Palestina do século I.
Nome e Significado
O nome Ágabo (em grego, Ἄγαβος) provavelmente
deriva de uma raiz semítica e significa "gafanhoto" ou "aquele
que reúne", indicando possivelmente uma conexão com sua missão profética.
Atividade Profética e Menções Bíblicas
Ágabo é mencionado em dois episódios importantes
no livro de Atos dos Apóstolos:
1.
A profecia sobre a
fome mundial (Atos 11:27-28):
Ágabo aparece pela primeira vez em Antioquia, na companhia de outros profetas,
onde anuncia que uma grande fome assolaria o mundo. Essa profecia se cumpriu
durante o reinado do imperador Cláudio (41-54 d.C.), conforme confirmado por
fontes históricas, como Flávio Josefo, que registrou severas crises alimentares
na Judéia, especialmente sob o procurador Tibério Júlio Alexandre (46-48 d.C.).
Em resposta à previsão de Ágabo, a comunidade cristã de Antioquia organizou uma
coleta de recursos para os crentes necessitados na Judéia, demonstrando o
caráter prático e solidário da igreja primitiva.
2.
A profecia sobre
a prisão de Paulo (Atos 21:10-11):
Ágabo reaparece em Cesaréia, pouco antes da prisão do apóstolo Paulo em
Jerusalém. Demonstrando sua mensagem de forma simbólica, ele pega o cinto de
Paulo e amarra suas próprias mãos e pés, profetizando que Paulo seria entregue
pelos judeus às autoridades gentias. Essa predição sublinha o estilo típico da
profecia simbólica, evocando gestos semelhantes dos antigos profetas do Antigo
Testamento, como Isaías (Isaías 20:2-3)
e Ezequiel (Ezequiel 4:1-3).
A Igreja Primitiva e os Dons Carismáticos
Ágabo exemplifica a atuação dos dons
carismáticos na Igreja primitiva, marcados por profecias, curas e outros sinais
do Espírito Santo. Atividades como as dele eram comuns na comunidade cristã
judaica da Palestina e entre os primeiros gentios convertidos. Esse contexto
carismático incluía figuras como as filhas de Filipe, o Diácono (Atos 21:9), e práticas semelhantes
encontradas na Igreja de Corinto (1 Coríntios
12:10; 14:1-25).
Importância e Legado
Embora suas aparições no Novo Testamento sejam
breves, Ágabo desempenha um papel significativo ao demonstrar como os dons
espirituais eram usados para direcionar e edificar a Igreja primitiva. Ele
também exemplifica a conexão entre a comunidade cristã e suas raízes judaicas,
ao mesmo tempo que aponta para a expansão do cristianismo em direção a um
público gentio mais amplo.
Públio
Élio Adriano (76-138 d.C.)
Públio Élio Adriano, mais conhecido simplesmente
como Adriano, foi imperador romano de 117 a 138 d.C., sucedendo Trajano. Sua
administração é lembrada tanto pela consolidação territorial do vasto Império
Romano quanto por eventos que marcaram profundamente a história do povo judeu
e, em menor medida, a dos cristãos da época.
Nascido em 76 d.C., na cidade de Itálica, na
Hispânia (atual Espanha), Adriano destacou-se desde jovem como um administrador
eficiente, além de possuir uma intensa curiosidade intelectual. Ele introduziu
reformas estruturais, garantiu a paz nas fronteiras e promoveu a arquitetura e
a cultura em diferentes partes do império.
Conquistas Territoriais e Arquitetônicas
Adriano foi particularmente conhecido por
reforçar as fronteiras do império em vez de expandi-las como seu antecessor. Um
exemplo icônico disso foi a construção da Muralha de Adriano, na região da
Bretanha (atual Reino Unido). Essa muralha, que se estendia por aproximadamente
120 km entre Newcastle e Carlisle, foi projetada para proteger as terras
romanas contra invasões de tribos bárbaras do norte.
Adriano e os Judeus: A Segunda Guerra
Judaico-Romana (132-135 d.C.)
Embora inicialmente tivesse relações pacíficas
com os judeus, o governo de Adriano testemunhou a Segunda Guerra
Judaico-Romana, também chamada Revolta de Bar Kokhba. Esse conflito foi
desencadeado em parte pela decisão de Adriano de construir uma nova cidade
romana, chamada Élia Capitolina, sobre as ruínas de Jerusalém e proibir
práticas religiosas fundamentais para os judeus, como a circuncisão.
O levante liderado por Simeão Bar Kokhba
começou em 132 d.C. e foi brutalmente reprimido em 135 d.C., com a captura da
fortaleza de Betar. Como resultado, milhares de judeus foram mortos ou vendidos
como escravos, e os sobreviventes foram proibidos de entrar na cidade de Élia
Capitolina, agora um espaço exclusivamente pagão com templos dedicados aos
deuses romanos, como Júpiter.
Adriano e os Cristãos
Em relação aos cristãos, Adriano mostrou-se
mais tolerante que outros imperadores romanos. Ele manteve a política de
Trajano, exigindo que as acusações contra cristãos fossem analisadas apenas em
tribunais e baseadas em evidências concretas, condenando denúncias infundadas.
Essa atitude possibilitou maior estabilidade para as primeiras comunidades
cristãs, permitindo que se desenvolvessem, ainda que em um ambiente de
perseguições ocasionais.
Legado e Morte
O legado de Adriano é visível em suas reformas
administrativas, obras arquitetônicas, e nos impactos culturais e religiosos de
seu reinado. Ele morreu em 138 d.C., sucedendo-se por Antonino Pio, cujo
governo foi marcado por maior tolerância e pacificação em relação aos conflitos
deixados por Adriano.
Referências Bíblicas e Historiográficas
Os eventos associados a Adriano e a Revolta de
Bar Kokhba são mencionados de forma indireta em textos históricos como os de
Cassius Dio e também em tradições judaicas compiladas no Gênesis Rabá. Autores cristãos como Eusébio de Cesareia
também abordam o governo de Adriano, especialmente em relação às políticas
sobre os cristãos.
Fontes
Históricas e Referências Contextuais do Período do Novo Testamento
Fontes Antigas e Clássicas
CÁSSIO DIO. História
Romana. Livro 69.
EUSÉBIO DE CESAREIA. História Eclesiástica. Trad. de versão latina ou grega (sem
local): s.n., data desconhecida.
FLÁVIO JOSEFO. Antiguidades
Judaicas. Livros 14–20.
FLÁVIO JOSEFO. A
Guerra dos Judeus. Livros 1–4.
FLÁVIO JOSEFO. A
Guerra dos Judeus, 1:120–158; Antiguidades
Judaicas, 14:1–79.
FLÁVIO JOSEFO. A
Guerra dos Judeus, 1:437; Antiguidades
Judaicas, 15:23–64; 20:247–248.
FLÁVIO JOSEFO. A Guerra dos Judeus, 2:3–9, 111–117; Antiguidades Judaicas, 17:339–355; 18:1–108.
FLÁVIO JOSEFO. A Guerra dos Judeus, 2:60–65; Antiguidades Judaicas, 17:278–284.
FLÁVIO JOSEFO. A Guerra dos Judeus, 2:178–222.
FLÁVIO JOSEFO. A Guerra dos Judeus, 2:272–277.
FLÁVIO JOSEFO. A Guerra dos Judeus, 4:325.
FLÁVIO JOSEFO. Antiguidades Judaicas, 18:143–239; 19:274–359.
FILO DE ALEXANDRIA. Sobre a Providência. Livro 2.
HEGESIPO (citado por Eusébio de Cesareia).
PSEUDEPÍGRAFOS. Salmos de Salomão, 8:15–17.
TALMUDE (MIXNÁ). Parah, 3:5.
Referências Bíblicas (utilizar a versão:
Almeida Revista e Atualizada)
BÍBLIA SAGRADA. Atos dos Apóstolos 11:28–30.
BÍBLIA SAGRADA. Atos dos Apóstolos 12:1–23.
BÍBLIA SAGRADA. Atos dos Apóstolos 23:31.
BÍBLIA SAGRADA. Atos dos Apóstolos 25–26.
BÍBLIA SAGRADA. Evangelho de João, cap. 18.
BÍBLIA SAGRADA. Evangelho de Lucas, cap. 3.
BÍBLIA SAGRADA. 1 Coríntios 12:10; 14:1–25.
Referências Secundárias
Modernas
DUNN, James D. G. Unity and Diversity
in the New Testament. London: SCM Press, 1990.
GOODMAN, Martin. Rome and Jerusalem:
The Clash of Ancient Civilizations. New York: Vintage Books, 2008.
VERMES, Geza. Who’s Who in the Age of
Jesus. London: Penguin Books, 2005.
Fontes Arqueológicas e Complementares
MOEDAS emitidas por Antígono, evidenciando seu
título como rei e sumo sacerdote.
MANUSCRITOS DO MAR MORTO. Comentário sobre
Habacuque e Naum. Literatura apocalíptica, séc. II a.C.–I d.C.