Comentários de Romanos Capítulo 7 do versículo 14 até o 25

Paulo, em Romanos 7:14-25, apresenta uma reflexão profunda sobre a futilidade da lei e a luta interna do ser humano. Ele destaca a natureza espiritual da lei em contraste com a condição carnal do homem, evidenciando a incapacidade humana de cumprir plenamente a lei devido à escravidão ao pecado.

A Natureza da Lei e a Condição Humana

No versículo 14, Paulo afirma que "a lei é espiritual" (pneumatikos), significando que é originada e dada pelo Espírito de Deus. Contudo, ele se reconhece como "carnal" (sarkinos), indicando sua natureza de carne e sangue e sua impotência moral diante das tentações. A expressão "vendido sob o pecado" reforça a ideia de escravidão ao pecado, como traduzido por Barrett: "Eu sou um homem de carne, vendido como um escravo para estar sob o poder do pecado".

O Conflito Interno

Paulo expõe sua perplexidade diante de suas próprias ações: "Porque o que faço, não o aprovo; pois o que quero, isso não faço; mas o que aborreço, isso faço". Esta confissão ressoa com a experiência comum de muitas pessoas, refletindo o conflito entre a razão e as paixões, como observado por filósofos e poetas tanto antigos quanto modernos. Paulo reconhece que, ao fazer o que não quer, ele consente com a bondade da lei, mas identifica que "já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim". Paulo está revelando seus sentimentos mais profundos; ele descreve uma experiência que é fundamental para a condição humana. Ele conhecia o que era certo, desejava fazer o bem, mas muitas vezes falhava. Ele também reconhecia o mal e lutava para resistir a ele. Sentia-se dividido, como se fossem duas pessoas dentro dele. Essa luta interna era conhecida por seus contemporâneos e é familiar para nós também.

Os judeus também tinham uma compreensão semelhante desse conflito interno, acreditando que cada pessoa possuía impulsos bons e maus. Eles viam isso como uma questão de escolha, acreditando que ninguém era obrigado a sucumbir ao impulso mau.

Ben Sirac escreve “que o Senhor odeia todas as formas de abominação e nenhuma é agradável para aqueles que o temem. Ele também menciona que desde o início, Deus criou o homem e o deixou à mercê de suas próprias escolhas”. (Apud. Barclay)[1]

Ovídio, o poeta romano, escreveu a famosa máxima: "Eu vejo as coisas melhores e as passo, mas sigo as piores." (ibid)

Essa luta interior, essa tensão entre o que é certo e o que é errado, é uma experiência universal e atemporal.

A Dualidade do Eu

Paulo distingue entre o "eu" e a "minha carne", reconhecendo a guerra interna entre o desejo de fazer o bem e a realidade de cometer o mal. Ele descreve o "homem interior" como aquele que tem prazer na lei de Deus, mas lamenta que a "lei do pecado" presente em seus membros prevalece. Este conflito é caracterizado pela luta constante entre a natureza caída (carnal) e o desejo espiritual de obedecer a Deus.

A Inutilidade da Vontade Humana

Paulo admite a incapacidade da vontade humana de realizar o bem: "Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e, com efeito, o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem". Ele descreve a frustração de desejar fazer o bem, mas acabar fazendo o mal, apontando para a natureza escravizadora do pecado.

A Lei e o Pecado

Paulo observa que a lei, embora boa, revela a presença do pecado e sua influência destrutiva. Ele menciona uma "lei" que, ao desejar fazer o bem, encontra o mal presente. Esta luta entre o "homem interior" e os "membros" revela a tensão entre o desejo espiritual de cumprir a lei de Deus e a realidade da natureza pecaminosa.

A Esperança em Cristo

Apesar desta condição desesperadora, Paulo aponta para a esperança fora de si mesmo: a confiança em Jesus Cristo. Ele reconhece que a libertação do poder do pecado não está em sua própria capacidade, mas na fé em Cristo, que oferece a redenção e a vitória sobre o pecado.

Paulo, em Romanos 7:14-25, descreve a futilidade da lei para vencer o pecado e a luta interna do ser humano entre o desejo de cumprir a lei de Deus e a realidade da natureza pecaminosa. Ele conclui que a solução para esta condição reside na fé em Jesus Cristo, que oferece a verdadeira libertação e vida.

O Clamor de Paulo e a Condição Humana

Paulo, em Romanos 7:24, exclama: "Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?" Esta expressão reflete o desespero de alguém ciente de sua própria condição pecaminosa e impotente para se libertar por si mesmo. O "corpo desta morte" refere-se ao ser dominado pelo pecado, como Paulo descreve em Romanos 6:6, onde o "corpo do pecado" está entregue à morte. Aqui, "corpo" (soma) representa a existência governada pelo pecado, ou seja, a carne.

A Gloriosa Resposta em Cristo

Em resposta ao seu próprio clamor, Paulo agradece a Deus por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor (Rm 7:25). Esta declaração, embora gramaticalmente incompleta, antecipa a libertação prometida e será expandida no capítulo 8 de Romanos. Paulo, ao expressar sua gratidão, interrompe sua narrativa para proclamar a solução para o seu dilema.

A Dualidade do Serviço

Paulo resume sua condição dizendo: "Assim que eu mesmo, com o entendimento, sirvo à lei de Deus, mas, com a carne, à lei do pecado". Esta dualidade reflete a tensão contínua entre o desejo de obedecer a Deus e a realidade da fraqueza humana sob o pecado.

A Natureza do Homem Miserável

O homem miserável descrito por Paulo é aquele que, confrontado pela lei, tenta em vão cumprir suas exigências, mas é continuamente frustrado pela carne. Este homem é o "velho homem" mencionado em Romanos 6:6, que morreu com Cristo para que pudesse ser unido a Ele e dar frutos para Deus (Rm 7:4).

A Experiência de Paulo e a Condição Pré-Cristã

Paulo fala de sua própria experiência pré-cristã como fariseu, alguém que sinceramente buscava cumprir a lei de Deus, mas falhava constantemente. Ele descreve este estado como um encontro angustiante com a lei, que revela a incapacidade humana de alcançar a justiça por meio das próprias obras.

A Redenção e a Libertação

A libertação do estado de miséria descrito em Romanos 7 é alcançada por meio de Jesus Cristo e do dom do Espírito Santo. Paulo argumenta que, sob a graça, um homem pode ser liberto do pecado, algo que a lei não podia realizar (Rm 8:3). A transição de Romanos 7 para Romanos 8 marca a passagem do conflito e derrota para a vitória e paz através do Espírito.

A Aplicação para os Crentes

Embora Romanos 7:14-25 descreva principalmente a condição do homem não regenerado, também tem implicações para os crentes que ainda lutam contra as tendências residuais da carne. Paulo sugere que a santificação não é alcançada pelo próprio esforço, mas pelo poder santificador do Espírito Santo. Mesmo os crentes podem experimentar momentos de derrota enquanto aprendem a depender totalmente do Espírito para sua santificação.

Conclusão: A Doutrina da Santificação

Paulo enfatiza que tanto a santificação quanto a justificação são realizadas por Deus. Assim como os crentes são declarados justos pela graça, através da fé, também são transformados pelo poder do Espírito Santo. Paulo discute os dois princípios ou "leis" que influenciam a vida do crente após sua frustrante experiência com a Lei: (1) a lei do pecado e da morte e (2) a lei do Espírito que traz vida em Cristo. A salvação não significa a purificação da velha natureza do crente, mas sim o Senhor concedendo uma nova natureza e crucificando a velha.

A lei do pecado e da morte representa a velha natureza em ação, de forma que o mal ainda está presente mesmo quando o crente deseja fazer o bem. Por outro lado, a lei do Espírito que traz vida em Cristo neutraliza a lei do pecado e da morte. O crescimento em santidade e no serviço a Deus ocorre quando nos entregamos ao Espírito, e não ao tentarmos disciplinar a carne por meio de regras externas.

A aplicação prática é que não devemos tentar obedecer a Deus por nossos próprios esforços, mas sim permitir que o Espírito Santo nos capacite a atender às exigências de santidade de Deus. Devemos reconhecer nossas fraquezas e permitir que o Espírito opere a vontade de Deus em nossa vida, desfrutando da liberdade de sermos filhos de Deus e glorificando-O com uma vida santa.



[1] O NOVO TESTAMENTO Comentado por William Barclay

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