SÉRIE - AS MULHERES NA BÍBLIA - Duas mulheres que levaram a questão de quem seria o filho sobrevivente perante Salomão

 

duas mulheres que levaram a questão de quem seria o filho sobrevivente perante Salomão

A Sabedoria de Salomão e o Amor Materno: Lições Eternas de Justiça e Compaixão

A sabedoria do rei Salomão é uma das histórias mais marcantes da Bíblia, e o episódio relatado em 1 Reis 3:18-26 é um exemplo claro de como discernimento e compaixão podem transformar situações complexas em decisões justas e inspiradoras. Este relato bíblico não apenas destaca a habilidade de Salomão em administrar a justiça, mas também oferece reflexões atemporais sobre o amor maternal, o cuidado pelos vulneráveis e os valores fundamentais que guiam uma sociedade justa.

Um Caso Inusitado de Justiça

Imagine duas mulheres, ambas mães de recém-nascidos, vivendo juntas e enfrentando uma situação trágica. Uma delas, infelizmente, perde seu bebê ao sufocá-lo acidentalmente durante a noite. Em meio à dor e ao desespero, surge uma disputa: ambas alegam ser a mãe do bebê sobrevivente. Sem testemunhas ou evidências claras, a questão é levada ao rei Salomão, conhecido por sua sabedoria divina.

Diante do dilema, Salomão propõe uma solução chocante: dividir o bebê ao meio e entregar metade para cada mulher. Embora essa ideia pareça cruel, foi uma estratégia brilhante para revelar a verdade. A verdadeira mãe, movida por um amor incondicional, implora ao rei que entregue o bebê à outra mulher, preferindo vê-lo vivo, mesmo que sob os cuidados de outra pessoa. Por outro lado, a outra mulher concorda com a divisão proposta, demonstrando falta de afeto genuíno.

Com base nas reações das mulheres, Salomão identifica a verdadeira mãe e decide entregar o bebê a ela. Sua decisão não apenas restaurou a criança à sua mãe biológica, mas também reafirmou sua reputação como um líder sábio e justo.

Reflexões sobre Amor Materno e Justiça

O episódio das duas mulheres diante de Salomão é mais do que uma demonstração de sabedoria; é um testemunho do poder do amor maternal. A verdadeira mãe estava disposta a sacrificar sua própria felicidade pelo bem-estar de seu filho, exemplificando um amor altruísta e incondicional. Essa história também nos convida a refletir sobre a importância do discernimento e da compaixão na busca pela justiça.

O versículo temático que resume esse episódio é encontrado em 1 Reis 3:27: “Então o rei respondeu: ‘Dêem à primeira mulher o bebê vivo; não o matem. Ela é a mãe.’” Este versículo encapsula a profundidade da sabedoria de Salomão e a ênfase bíblica na justiça e no cuidado pelos vulneráveis.

Lições para os Dias Atuais

Embora esse relato tenha ocorrido há milhares de anos, suas lições continuam atuais. Em um mundo repleto de desafios sociais e morais, o exemplo de Salomão nos lembra da importância de buscar soluções justas e compassivas para os problemas que enfrentamos. Além disso, destaca o valor do amor sacrificial, especialmente no contexto familiar.

Perguntas para Reflexão

  1. Como podemos aplicar o discernimento e a compaixão de Salomão em nossas decisões diárias?
  2. O que o exemplo da verdadeira mãe nos ensina sobre amor incondicional?
  3. Em que áreas da sociedade atual podemos promover maior justiça e cuidado pelos vulneráveis?

Chamada para Ação

Se este artigo despertou seu interesse sobre o tema da sabedoria e da justiça divina, recomendamos que você leia outros relatos bíblicos sobre as decisões de Salomão em 1 Reis. Além disso, reflita sobre como esses princípios podem ser incorporados em sua vida pessoal e comunitária.

Bibliografia

BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada: Nova Versão Internacional. São Paulo: Editora Vida, 2001.

MACHADO, José Carlos. A Sabedoria de Salomão: Reflexões Bíblicas. São Paulo: Editora Cristã Brasileira, 2015.

NOGUEIRA, Maria Clara. O Amor Materno na Perspectiva Bíblica. Rio de Janeiro: Editora Fé Viva, 2018.

SILVA, Antônio Luiz da. Justiça e Compromisso Social nos Textos Bíblicos. Belo Horizonte: Editora Luz Divina, 2020.









SÉRIE - AS MULHERES NA BÍBLIA - A viúva de Sarepta

A viúva de Sarepta


 A Fé que Transforma: A História da Viúva de Sarepta e Suas Lições para Hoje

A Bíblia é uma fonte inesgotável de histórias que inspiram, ensinam e desafiam nossa fé. Entre essas narrativas, encontramos o relato da viúva de Sarepta, uma mulher cuja generosidade e confiança em Deus trouxeram transformação à sua vida. Apesar de seu nome permanecer desconhecido, sua história, registrada em 1 Reis 17:9-16, nos oferece lições preciosas sobre fé, obediência e provisão divina. Neste artigo, vamos explorar os detalhes dessa narrativa e refletir sobre como ela pode impactar nossas vidas hoje.


Contexto Histórico: Uma Nação em Crise

O relato da viúva de Sarepta ocorre em um período de grande crise espiritual e material na história de Israel. Durante o reinado dos reis Acabe e Jezabel, a idolatria havia se espalhado pelo povo, afastando-o dos caminhos de Deus. Como consequência da desobediência nacional, Deus ordenou que não houvesse chuva na terra, resultando em uma severa fome. Elias, o profeta de Deus, foi enviado para confrontar o rei Acabe e anunciar essa dura realidade.

Após entregar a mensagem divina, Elias seguiu as instruções do Senhor e se refugiou em um riacho secreto onde foi sustentado por corvos. Quando o riacho secou, Deus instruiu Elias a ir até Sarepta, uma cidade estrangeira, onde uma viúva seria encarregada de cuidar dele. Essa direção divina é descrita em 1 Reis 17:9: "Dispõe-te, e vai a Sarepta, que pertence a Sidom, e demora-te ali, onde ordenei a uma mulher viúva que te dê comida."


A Generosidade em Meio à Escassez

Ao chegar a Sarepta, Elias encontrou a viúva coletando gravetos para preparar sua última refeição. A situação era desesperadora: ela tinha apenas um punhado de farinha e um pouco de azeite, suficiente para um último pão para ela e seu filho. Quando Elias pediu água e comida, sua reação foi de honestidade e vulnerabilidade. No entanto, mesmo diante da escassez, ela demonstrou generosidade ao atender ao pedido do profeta.

Elias então compartilhou a promessa de Deus com ela: se ela confiasse e seguisse suas orientações, a farinha e o azeite não acabariam até que a chuva voltasse à terra. A viúva obedeceu e viu o milagre acontecer. Durante meses, sua casa foi sustentada pela provisão divina. Esse ato de fé não apenas supriu suas necessidades físicas, mas também trouxe Elias como uma presença transformadora em sua vida.


Uma Crise Maior: A Morte do Filho

Apesar da provisão milagrosa, a viúva enfrentou outra tragédia: seu filho adoeceu e morreu. Em meio à dor, ela questionou a presença de Elias em sua casa e refletiu sobre seus próprios pecados. Elias, movido por compaixão, clamou ao Senhor pela vida do menino. Deus respondeu à oração do profeta e restaurou a vida do filho da viúva. Esse evento não apenas trouxe alegria àquela família, mas também confirmou o poder e a fidelidade de Deus.


Lições para Hoje

A história da viúva de Sarepta nos ensina sobre confiança em Deus mesmo nas circunstâncias mais adversas. Sua generosidade em meio à escassez e sua disposição para obedecer às instruções divinas revelam uma fé prática que transforma vidas. Essa narrativa também nos lembra que Deus é capaz de prover além do que podemos imaginar, mesmo quando nossos recursos parecem insuficientes.

Além disso, o episódio da morte e ressurreição do filho da viúva destaca a importância da oração fervorosa e da intercessão nos momentos de crise. Elias não apenas trouxe provisão material àquela casa; ele também se tornou um canal de restauração espiritual e emocional.


Perguntas para Reflexão

  1. Como você reage diante de pedidos ou desafios que parecem impossíveis de serem atendidos?
  2. Em quais áreas da sua vida você precisa confiar mais na provisão divina?
  3. Você já experimentou momentos em que sua generosidade ou obediência resultaram em bênçãos inesperadas?

Chamada para Ação

Se você ficou inspirado pela história da viúva de Sarepta, considere estudar outras narrativas bíblicas sobre fé e provisão divina. Recomendo a leitura do capítulo completo de 1 Reis 17 para aprofundar seu entendimento sobre o contexto e os detalhes dessa história. Além disso, refletir sobre como aplicar essas lições em sua vida diária pode trazer mudanças significativas.


Bibliografia




História de Jimmyswaggar - Jimmy Swaggart


Jimmy Swaggart: Redenção, Queda e Graça

Versículo-tema: “Onde abundou o pecado, superabundou a graça.” (Romanos 5.20b)

Introdução

A vida de Jimmy Swaggart é um retrato complexo de talento, queda e reconciliação. Evangelista pentecostal, cantor e pregador internacionalmente reconhecido, Swaggart alcançou milhões com sua pregação e música. Contudo, sua história também foi marcada por um escândalo público que abateu profundamente seu ministério. O que mais marcou sua vida não foi apenas sua queda, mas sua busca por redenção e sua perseverança em pregar a graça restauradora de Deus.

Origens e Chamada para o Ministério

Nascido em 15 de março de 1935, em Ferriday, Louisiana (EUA), Jimmy Lee Swaggart cresceu em um ambiente cristão pentecostal. Primo de Jerry Lee Lewis (astro do rock) e Mickey Gilley (cantor country), Swaggart seguiu um caminho diferente: entregou sua vida ao evangelho ainda jovem. Começou seu ministério itinerante nos anos 1950, pregando nas pequenas igrejas e barracas evangelísticas do sul dos Estados Unidos.

Ascensão ao Reconhecimento Internacional

Nos anos 1970 e 80, Swaggart tornou-se um dos evangelistas mais conhecidos do mundo. Seu programa de televisão, Jimmy Swaggart Telecast, era transmitido para mais de 100 países. Além da pregação, suas músicas e hinos pentecostais emocionavam milhões de ouvintes. Com estilo eloquente e emotivo, ele pregava com veemência sobre arrependimento, salvação e poder do Espírito Santo.

A Queda e o Escândalo Público

Em 1988, Swaggart tornou-se protagonista de um escândalo sexual que abalou profundamente seu ministério. Em uma coletiva de imprensa, diante de câmeras e milhões de telespectadores, chorou e declarou: “Eu pequei”. O escândalo levou à perda de apoio de muitos líderes religiosos e ao afastamento temporário da pregação televisiva. Mesmo assim, Swaggart não abandonou o ministério.

Redenção e Perseverança

Apesar das severas críticas, Jimmy Swaggart continuou seu trabalho evangelístico. Fundou o Jimmy Swaggart Bible College, ampliou seu ministério musical, e manteve seu programa na televisão por meio da SonLife Broadcasting Network. Sua perseverança em continuar pregando, mesmo com o passado exposto, tornou-se para muitos um exemplo de que a graça de Deus é suficiente para restaurar vidas.

A Morte e o Legado

Swaggart faleceu em 1º de julho de 2025, em Baton Rouge, Louisiana, aos 90 anos. Deixou um legado controverso, mas inegável. Milhares testemunharam ter sido tocados por suas pregações e canções. Ele permanece como um lembrete de que o poder do evangelho está em transformar e restaurar, mesmo aqueles que falharam.

Reflexão Espiritual

Jimmy Swaggart nos ensina que Deus não rejeita um coração arrependido. Sua vida levanta questões importantes sobre redenção, julgamento, perseverança e graça.

Perguntas para Autoavaliação

1. Acredito que Deus pode restaurar quem caiu?

2. Como reajo diante da queda de um irmão na fé?

3. Tenho vivido com sinceridade e dependência da graça de Deus?

Bibliografia

BOURDEAUX, Michael. Swaggart: The Rise and Fall of a Televangelist. New York: Harper & Row, 1990.

HARRELL, David E. All Things Are Possible: The Healing and Charismatic Revivals in Modern America. Bloomington: Indiana University Press, 1975.

SWAGGART, Jimmy. Brother Swaggart, Here is My Question. Baton Rouge: Jimmy Swaggart Ministries, 1997.

SWAGGART, Jimmy. To Cross a River. Baton Rouge: Jimmy Swaggart Ministries, 1992.

THOMPSON, Damian. The Fix: How Jimmy Swaggart Made a Comeback. London: Christian Century, 2005.


HISTÓRIA DE SALOMÃO E A SULAMITA - do Cântico dos Cânticos,

 

Esta imagem retrata um casal vestido com trajes tradicionais de uma cultura oriental. O homem usa uma túnica branca e um turbante, enquanto a mulher usa um vestido azul claro com detalhes florais e uma coroa de flores na cabeça. Eles estão em um cenário bucólico, com flores rosas ao fundo, criando uma atmosfera romântica e idílica. A imagem transmite uma sensação de tranquilidade e conexão entre os dois personagens.

O Encontro do Amor – Cantares, Capítulo 1

Era uma jovem formosa, morena como as tendas de Quedar, encantadora como os palácios de Salomão. Seu coração ardia de desejo e admiração por alguém especial — o rei.

Ela dizia com doçura e paixão:

— Ah, se ele me beijasse com os beijos da sua boca! O seu amor é melhor do que o vinho! Seu nome é como um perfume derramado — por isso, as moças o amam! Leve-me com você! Corramos juntos!

Essa jovem era a Sulamita — uma mulher do campo, marcada pelo sol, mas cheia de graça e beleza. Ela sabia que sua pele era escura por causa do trabalho ao ar livre, mas não se envergonhava disso. Explicava:

— Não fiquem me olhando com desprezo por causa da minha cor! Foi o sol que me queimou. Meus irmãos se irritaram comigo e me fizeram trabalhar nas vinhas... A minha própria vinha, porém, eu não pude cuidar.

Ela suspirava e buscava saber onde poderia encontrar seu amado:

— Diga-me, amado da minha alma, onde você costuma pastorear o seu rebanho? Onde o faz descansar ao meio-dia? Por que eu haveria de andar errante como uma mulher sem rumo entre os rebanhos dos seus companheiros?

O rei Salomão, ouvindo a voz da jovem, ficou encantado. E respondeu com palavras doces e cheias de admiração:

— Minha querida, você é linda como uma égua dos carros do faraó! Suas bochechas são enfeitadas por brincos, e seu pescoço por colares de joias. Vamos te dar enfeites de ouro com detalhes de prata!

A Sulamita se derretia em amor, recordando os momentos junto ao rei:

— Enquanto o rei estava em sua mesa, o meu perfume exalava seu aroma. O meu amado é para mim como uma bolsinha de mirra entre os meus seios; como um ramalhete de flores entre as vinhas de En-Gedi.

E então, novamente o rei a exaltava com ternura:

— Ah, como você é linda, minha amada! Seus olhos são como os olhos das pombas!

Ela, por sua vez, respondia:

— E você, meu amado, é encantador! Nosso leito é de flores! As vigas da nossa casa são de cedro, e os caibros de pinho.


Assim começa a história apaixonada entre Salomão e a Sulamita, marcada por desejo puro, beleza poética e encantamento mútuo. É um amor que floresce entre campos e palácios, entre simplicidade e realeza.

O Florescer do Amor – Cantares, Capítulo 2

A jovem Sulamita se via como uma flor do campo, simples, mas cheia de vida:

— Eu sou a rosa de Sarom, o lírio dos vales — dizia com doçura.

Mas para Salomão, ela era mais do que isso. Aos seus olhos, ela era única:

— Como um lírio entre os espinhos, assim é a minha amada entre as outras mulheres.

E ela respondeu com igual ternura, comparando o amado:

— Como uma macieira entre as árvores do bosque, assim é o meu amado entre os rapazes. Sento-me à sua sombra com prazer, e seu fruto é doce ao meu paladar.

Ela se recordava do momento em que foi levada à sala do banquete, onde tudo transbordava em alegria:

— Sua bandeira sobre mim é o amor!

Mas o amor também era avassalador. Ela confessava:

— Sustentem-me com passas, revigorem-me com maçãs, pois estou doente de amor!

Ela se lembrava com emoção:

— O seu braço esquerdo está debaixo da minha cabeça, e com o direito ele me abraça.

E então, voltando-se às mulheres de Jerusalém, ela dizia com seriedade e doçura:

— Eu vos conjuro, filhas de Jerusalém, por tudo o que há de puro: não despertem nem provoquem o amor até que ele o queira!

De repente, ela ouve algo. Seu coração bate mais rápido:

— Ouço a voz do meu amado! Vejam! Ele vem saltando pelos montes, pulando sobre as colinas! O meu amado é como uma gazela, como um cervo jovem!

Ela o vê se aproximando, olhando pela janela, espiando pelas grades. Então ele a chama com ternura:

— Levante-se, minha querida! Minha bela, venha comigo! O inverno passou, as chuvas cessaram e se foram. As flores já aparecem nos campos; chegou o tempo de cantar! A voz da rola se ouve em nossa terra.

Ele continua com palavras doces, como quem convida para o amor florescer:

— A figueira começa a dar seus figos, e as videiras florescem com perfume. Levante-se, minha amada, minha linda, venha comigo!

E então, com paixão e sensibilidade, ele pede:

— Minha pomba, que se esconde nas fendas das rochas, nos recantos das escarpas, mostre-me seu rosto, deixe-me ouvir sua voz. Sua voz é doce, e seu rosto, encantador!

Mas o amor também é frágil e precisa ser protegido. E ele diz:

— Apanhem as raposas, as pequenas raposas que devastam as vinhas, pois as nossas vinhas estão em flor!

A Sulamita então declara com confiança e entrega:

— O meu amado é meu, e eu sou dele. Ele pastoreia entre os lírios.

E com um toque de saudade e desejo, ela sussurra:

— Volte, meu amado, antes que sopre a brisa da noite e fujam as sombras. Seja como a gazela, como o cervo jovem, nos montes perfumados.


Esse capítulo mostra o despertar do amor entre o rei e a moça simples do campo — um amor puro, mas ardente, cheio de poesia, desejo e cuidado.

A Busca Noturna – Cantares, Capítulo 3

Certa noite, a jovem Sulamita acordou sobressaltada. O amor era tão forte em seu coração que ela não conseguia dormir. Ela disse:

— Em meu leito, durante a noite, procurei aquele a quem ama a minha alma. Procurei, mas não o encontrei.

A inquietação tomou conta dela. Então decidiu levantar-se, sair pelas ruas silenciosas da cidade e procurar aquele que seu coração tanto desejava.

— Levantarei agora e andarei pela cidade, pelas ruas e pelas praças. Procurarei aquele a quem a minha alma ama!

Ela caminhava com passos ansiosos, chamando por ele com o olhar, mas ele não estava em lugar nenhum. De repente, encontrou os guardas que faziam a ronda noturna.

— Vocês viram aquele a quem ama a minha alma? — perguntou com esperança nos olhos.

Mas não demorou muito... Mal havia passado por eles e, finalmente, ali estava ele — o seu amado. Ela correu ao seu encontro, envolveu-o nos braços com todo o amor e disse:

— Eu o agarrei e não o deixei ir, até que o levei para a casa da minha mãe, para o quarto daquela que me gerou.

Mais uma vez, como quem guarda o segredo e o tempo certo do amor, ela se voltou às moças de Jerusalém e disse com reverência:

— Eu vos conjuro, filhas de Jerusalém, por tudo o que há de puro: não despertem nem provoquem o amor, até que ele o queira.


Na mesma cena, uma nova imagem se forma diante dos olhos de todos. Alguém vem subindo do deserto, envolto numa nuvem de mirra e incenso, perfumado com especiarias escolhidas.

— Quem é este que vem do deserto como uma coluna de fumaça?

É Salomão, o rei, em toda a sua glória. Ele vem em sua liteira real, cercado por sessenta guerreiros valentes, os mais corajosos de Israel. Todos estão armados, prontos para proteger o rei, mesmo nas noites de medo.

A liteira foi feita com esmero — de madeira do Líbano. Suas colunas eram de prata, o encosto de ouro, o assento coberto de púrpura... Tudo ornado com amor pelas filhas de Jerusalém.

E então a cena se abre como uma celebração:

— Saí, ó filhas de Sião, e contemplai o rei Salomão, com a coroa com que sua mãe o coroou no dia do seu casamento, o dia mais feliz de sua vida.


Neste capítulo, vemos dois momentos: a busca ansiosa da Sulamita por seu amado, que revela a profundidade do amor verdadeiro, e a entrada triunfal de Salomão, como o noivo glorioso, rodeado de honra, pronto para viver a plenitude desse amor.

A Beleza da Amada – Cantares, Capítulo 4

Finalmente chegou o momento tão esperado. O amado contempla a Sulamita com os olhos de um homem apaixonado e encantado. Ele a observa de perto, com ternura, e começa a descrever cada detalhe da beleza de sua amada com palavras cheias de poesia e reverência:

— Como você é linda, minha querida! Como é bela! Seus olhos são como os das pombas, brilhando por trás do seu véu. Seu cabelo cai como um rebanho de cabras descendo pelas encostas de Gileade.

Ele continua, com admiração:

— Seus dentes são brancos como ovelhas recém-tosquiadas que sobem do lavadouro, todos alinhados, nenhum está faltando. Seus lábios são como fita escarlate, e sua boca é encantadora. Suas faces, por trás do véu, são como romãs partidas.

E não para por aí. Com respeito e desejo puro, ele segue exaltando:

— Seu pescoço é como a torre de Davi, imponente, adornado com mil escudos. Seus seios são como dois filhotes gêmeos de gazela, pastando entre os lírios.

A paixão cresce em palavras que anunciam o encontro íntimo:

— Antes que sopre a brisa da noite e fujam as sombras, eu subirei ao monte da mirra, à colina do incenso.

E então, ele declara com profundidade:

— Você é toda linda, minha amada; não há defeito algum em você.

Agora, ele a convida:

— Venha comigo do Líbano, minha noiva. Venha do alto dos montes, desça dos picos nevados, dos covis dos leões, das montanhas dos leopardos.

Com o coração rendido ao amor, ele diz:

— Você me arrebatou o coração, minha irmã, minha noiva. Com um simples olhar, com uma joia do seu colar, me conquistou por completo.

O amor entre eles é doce e desejado:

— Como são deliciosas as suas carícias, minha noiva! Mais agradáveis que o vinho! O perfume do seu amor é mais suave que qualquer fragrância.

E ele continua, exaltando a singularidade dela:

— Seus lábios destilam mel puro, minha esposa. Leite e mel estão debaixo da sua língua. Suas roupas têm o cheiro dos campos do Líbano.

Ele a compara a um jardim fechado:

— Você é um jardim secreto, uma fonte selada, um paraíso de romãs, árvores frutíferas, mirra e aloés. É como uma fonte que jorra água viva, uma nascente que desce dos montes.

A Sulamita, então, responde com desejo puro e entrega voluntária:

— Desperte, vento norte! Venha, vento sul! Soprem sobre o meu jardim, espalhem a sua fragrância. Que o meu amado entre em seu jardim e saboreie os seus frutos excelentes!


Esse capítulo é a celebração do amor consumado entre Salomão e a Sulamita — um amor que valoriza o corpo, a alma e o espírito. É uma expressão de intimidade dentro da aliança, marcada pela admiração mútua, respeito profundo e entrega total.

A Porta Fechada e a Busca Ardente – Cantares, Capítulo 5

O amado falou com ternura:

— Entrei no meu jardim, minha irmã, minha noiva. Colhi a mirra e as especiarias, comi o favo com o mel, bebi o vinho com o leite.

E então, como num convite celestial, uma voz ecoa:

— Comam, amigos! Bebam, embriaguem-se de amor!


Agora a cena muda.

É noite, e a Sulamita está em seu quarto. Ela dorme, mas seu coração permanece desperto. De repente, ouve batidas à porta. É o amado, suplicando com doçura e saudade:

— Abre para mim, minha irmã, minha querida, minha pomba, minha imaculada! Minha cabeça está coberta de orvalho, e meus cabelos das gotas da noite.

Mas ela hesita... está cansada, já se despiu, já lavou os pés...

— Já tirei a túnica... como tornaria a vesti-la? Já lavei os pés... como tornaria a sujá-los?

Mesmo assim, o amado tenta abrir a porta. Sua mão toca a maçaneta. O coração dela se agita. Finalmente, ela se levanta para abrir — mas tarde demais.

— Quando abri ao meu amado, ele já se fora. Minha alma se derreteu quando falou, mas não o encontrei. Procurei, e não achei. Chamei, e ele não respondeu.

Desesperada, sai à noite pelas ruas da cidade, à procura do amado. Mas encontra os guardas que rondam a cidade, e eles a tratam com violência:

— Os guardas me encontraram... bateram em mim, feriram-me. Tiraram o meu manto, os sentinelas dos muros.

Mesmo assim, ela não desiste. Volta-se às filhas de Jerusalém com um pedido:

— Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém: se encontrarem o meu amado, digam-lhe que estou enferma de amor!

As moças, surpresas, perguntam:

— Que tem o teu amado mais do que outro, ó mais bela das mulheres? O que ele tem de tão especial, para que assim o procures?

Ela então o descreve com paixão e admiração:

— O meu amado é alvo e rosado, o mais distinto entre milhares. Sua cabeça é como ouro puro, seus cabelos ondulados e negros como o corvo. Seus olhos são como pombas junto às correntes de água. Suas faces são como canteiros de bálsamo, seus lábios gotejam mirra. Suas mãos são anéis de ouro, seus braços colunas de mármore. Seu corpo é como marfim polido, coberto de safiras.

E ela conclui:

— Este é o meu amado, este é o meu amigo, ó filhas de Jerusalém!


Neste capítulo, vemos que o amor, mesmo verdadeiro, também enfrenta desafios: atrasos, desencontros, riscos e saudade. A Sulamita vacila, perde o momento, sofre — mas continua buscando, pois o amor não desiste.

O Reencontro e o Encanto Renovado – Cantares, Capítulo 6

Após ouvir a apaixonada descrição da Sulamita sobre seu amado, as filhas de Jerusalém, agora tocadas por sua devoção, perguntam com ternura:

— Para onde foi o teu amado, ó mais formosa entre as mulheres? Para onde se voltou o teu amado, para que o busquemos contigo?

Ela responde com segurança e doçura, como quem conhece bem o coração de quem ama:

— O meu amado desceu ao seu jardim, aos canteiros de bálsamo, para apascentar nos jardins e colher lírios. Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu; ele apascenta entre os lírios.


Agora é o amado quem fala. Ele olha para ela com reverência e profunda admiração:

— Você é linda, minha amada, como Tirza, formosa como Jerusalém, majestosa como um exército em ordem de batalha!

Mas não é só beleza: é um poder que o desarma:

— Desvie de mim os seus olhos, pois eles me perturbam! Seu cabelo é como um rebanho de cabras descendo de Gileade. Seus dentes são como ovelhas alinhadas, seus lábios são como romãs partidas.

Ele a exalta com palavras que vão além da aparência:

— Sessenta são as rainhas, oitenta as concubinas, e as virgens, sem número... mas uma só é a minha pomba, a minha perfeita. A única de sua mãe, a preferida daquela que a deu à luz.

Até as mulheres da corte a elogiam:

— As moças a veem e a chamam de feliz; as rainhas e concubinas a louvam.

E uma pergunta ecoa entre elas, como admiração coletiva:

— Quem é esta que aparece como a alva do dia, bela como a lua, brilhante como o sol, imponente como um exército?


O amado continua sua lembrança, descrevendo um momento de paz:

— Desci ao pomar das nogueiras para ver os brotos do vale, para observar se a videira já brotava, se as romãs estavam em flor.

E ali, entre jardins e pensamentos, ele se sente tomado pelo amor:

— Sem que eu soubesse, o meu desejo me levou à carruagem do meu nobre povo.

E então as moças clamam:

— Volta, volta, ó Sulamita! Volta, volta, para que te vejamos!

Mas alguém pergunta:

— Por que olham tanto para a Sulamita, como se fosse uma dança de dois exércitos?


Neste capítulo, o amor é reencontrado, reconhecido e celebrado. A Sulamita permanece fiel, e o rei renova sua admiração por ela, mostrando que o amor verdadeiro sabe esperar, sabe buscar, sabe voltar — e sempre vê beleza renovada em quem se ama.

A Beleza Celebrada e o Prazer do Amor – Cantares, Capítulo 7

Salomão olha para a Sulamita com um olhar de quem conhece e ama cada detalhe. Não mais como quem descobre, mas como quem contempla com intimidade sagrada. E então ele fala, exaltando sua beleza da cabeça aos pés:

— Como são formosos os teus pés nas sandálias, ó filha de príncipe! Teus quadris são como joias esculpidas por mãos de artista. Teu ventre é como uma taça redonda que nunca falta vinho; tua cintura como um feixe de trigo rodeado de lírios.

Ele continua, envolto em admiração e desejo reverente:

— Teus seios são como dois filhotes gêmeos de gazela. Teu pescoço é como uma torre de marfim, teus olhos são como os lagos de Hesbom. Teu nariz é como a torre do Líbano, voltada para Damasco. Tua cabeça se eleva como o Carmelo, e teus cabelos são como púrpura real. Um rei se perde nos teus cabelos!

E ele resume seu encantamento:

— Como você é linda, como é encantadora! O amor contigo é um prazer!

Então, com palavras de puro desejo dentro da aliança, ele diz:

— Tua estatura é como a palmeira, e teus seios como cachos de uvas. Subirei à palmeira e colherei os seus frutos. Que os teus seios sejam como os cachos da videira, e teu hálito como o perfume das maçãs. Que teus beijos sejam como o melhor vinho...


A Sulamita responde com confiança e entrega amorosa:

— Que o vinho vá suavemente aos lábios do meu amado, escorrendo suavemente por seus lábios adormecidos.

E então ela declara com firmeza:

— Eu sou do meu amado, e ele sente desejos por mim.

Agora é ela quem toma a iniciativa do amor maduro:

— Venha, meu amado, vamos ao campo, passemos a noite entre os vinhedos. Ao amanhecer, vamos às vinhas ver se a videira brotou, se as flores desabrocharam, se as romãs estão em flor. Ali eu lhe darei o meu amor.

Ela continua, lembrando que o amor se cultiva com intenções puras:

— As mandrágoras exalam seu perfume, e junto às nossas portas estão todos os tipos de delícias — frutas novas e antigas — que guardei para ti, ó meu amado.


Neste capítulo, vemos que o amor entre Salomão e a Sulamita atinge maturidade: é confiante, mútuo, cheio de prazer, sem pressa, sem culpa, sem medo. Um amor que se alegra com o corpo, mas que floresce no compromisso, no respeito e na entrega.

O Amor Que Não Pode Ser Quebrado – Cantares, Capítulo 8

Agora a Sulamita fala com o coração pleno, sem medo, desejando que o amor fosse livre para se expressar a qualquer hora, em qualquer lugar. Ela diz:

— Ah, se você fosse como meu irmão, criado nos seios da minha mãe! Eu o encontraria na rua e o beijaria, e ninguém me desprezaria por isso. Eu o levaria à casa da minha mãe, e você me ensinaria. Eu lhe daria vinho aromático para beber, o suco das minhas romãs.

Ela continua, com ternura já conhecida:

— A sua mão esquerda estaria sob a minha cabeça, e a direita me abraçaria.

E mais uma vez, como fez antes, ela se dirige às moças de Jerusalém com um alerta sagrado:

— Eu vos conjuro, ó filhas de Jerusalém: não despertem o amor, até que ele o queira.


A história continua com uma cena de retorno. A voz pergunta:

— Quem é esta que sobe do deserto, apoiada em seu amado?

É a Sulamita, transformada — antes solitária, agora amparada; antes ansiosa, agora segura no amor. Ela fala com ternura e saudade:

— Debaixo da macieira eu te despertei. Ali tua mãe te concebeu, ali ela deu à luz aquele que eu amo.

E então ela pronuncia palavras que se tornariam eternas — um selo sobre o amor verdadeiro:

Põe-me como um selo sobre o teu coração, como um selo sobre o teu braço.
Porque o amor é forte como a morte, e o ciúme é inflexível como a sepultura.
Suas chamas são fogo ardente, labaredas do Senhor.

Ela continua:

— Nem muitas águas conseguem apagar o amor, nem os rios conseguem afogá-lo. Se alguém oferecesse todos os bens da sua casa para comprá-lo, seria totalmente desprezado.


Surge uma lembrança de infância. Os irmãos da Sulamita dizem:

— Temos uma irmã pequena, que ainda não tem seios. Que faremos por ela no dia em que for pedida em casamento?

E decidem:

— Se ela for como um muro, construiremos sobre ela uma torre de prata; se for como uma porta, reforçá-la-emos com tábuas de cedro.

A Sulamita então declara com segurança:

— Eu sou um muro, e meus seios são como torres. Assim me tornei aos olhos dele como alguém que encontra paz.

Ela conclui a história com uma imagem final:

— Salomão tinha uma vinha em Baal-Hamom, que foi arrendada a lavradores. Cada um devia dar pelo fruto mil peças de prata. A minha vinha, que é minha, está diante de mim. Os mil são para Salomão, e duzentos para os que cuidam do seu fruto.

E o livro termina com o desejo de amor contínuo, vivo e presente:

— Você que habita nos jardins, os amigos escutam sua voz — deixe-me ouvi-la!

E o amado responde com ternura:

Vem depressa, minha amada!
Seja como gazela ou cervo jovem sobre os montes de especiarias!


Fim: O Amor Segundo Deus

Assim se encerra o Cântico dos Cânticos — uma celebração do amor fiel, puro, desejado e maduro. Não é um amor passageiro, mas uma chama acesa pelo próprio Deus. É romântico, físico, emocional, espiritual e eterno.