O Encontro do Amor – Cantares, Capítulo 1
Era uma jovem formosa, morena como as tendas de Quedar, encantadora como os palácios de Salomão. Seu coração ardia de desejo e admiração por alguém especial — o rei.
Ela dizia com doçura e paixão:
— Ah, se ele me beijasse com os beijos da sua boca! O seu amor é melhor do que o vinho! Seu nome é como um perfume derramado — por isso, as moças o amam! Leve-me com você! Corramos juntos!
Essa jovem era a Sulamita — uma mulher do campo, marcada pelo sol, mas cheia de graça e beleza. Ela sabia que sua pele era escura por causa do trabalho ao ar livre, mas não se envergonhava disso. Explicava:
— Não fiquem me olhando com desprezo por causa da minha cor! Foi o sol que me queimou. Meus irmãos se irritaram comigo e me fizeram trabalhar nas vinhas... A minha própria vinha, porém, eu não pude cuidar.
Ela suspirava e buscava saber onde poderia encontrar seu amado:
— Diga-me, amado da minha alma, onde você costuma pastorear o seu rebanho? Onde o faz descansar ao meio-dia? Por que eu haveria de andar errante como uma mulher sem rumo entre os rebanhos dos seus companheiros?
O rei Salomão, ouvindo a voz da jovem, ficou encantado. E respondeu com palavras doces e cheias de admiração:
— Minha querida, você é linda como uma égua dos carros do faraó! Suas bochechas são enfeitadas por brincos, e seu pescoço por colares de joias. Vamos te dar enfeites de ouro com detalhes de prata!
A Sulamita se derretia em amor, recordando os momentos junto ao rei:
— Enquanto o rei estava em sua mesa, o meu perfume exalava seu aroma. O meu amado é para mim como uma bolsinha de mirra entre os meus seios; como um ramalhete de flores entre as vinhas de En-Gedi.
E então, novamente o rei a exaltava com ternura:
— Ah, como você é linda, minha amada! Seus olhos são como os olhos das pombas!
Ela, por sua vez, respondia:
— E você, meu amado, é encantador! Nosso leito é de flores! As vigas da nossa casa são de cedro, e os caibros de pinho.
Assim começa a história apaixonada entre Salomão e a Sulamita, marcada por desejo puro, beleza poética e encantamento mútuo. É um amor que floresce entre campos e palácios, entre simplicidade e realeza.
O Florescer do Amor – Cantares, Capítulo 2
A jovem Sulamita se via como uma flor do campo, simples, mas cheia de vida:
— Eu sou a rosa de Sarom, o lírio dos vales — dizia com doçura.
Mas para Salomão, ela era mais do que isso. Aos seus olhos, ela era única:
— Como um lírio entre os espinhos, assim é a minha amada entre as outras mulheres.
E ela respondeu com igual ternura, comparando o amado:
— Como uma macieira entre as árvores do bosque, assim é o meu amado entre os rapazes. Sento-me à sua sombra com prazer, e seu fruto é doce ao meu paladar.
Ela se recordava do momento em que foi levada à sala do banquete, onde tudo transbordava em alegria:
— Sua bandeira sobre mim é o amor!
Mas o amor também era avassalador. Ela confessava:
— Sustentem-me com passas, revigorem-me com maçãs, pois estou doente de amor!
Ela se lembrava com emoção:
— O seu braço esquerdo está debaixo da minha cabeça, e com o direito ele me abraça.
E então, voltando-se às mulheres de Jerusalém, ela dizia com seriedade e doçura:
— Eu vos conjuro, filhas de Jerusalém, por tudo o que há de puro: não despertem nem provoquem o amor até que ele o queira!
De repente, ela ouve algo. Seu coração bate mais rápido:
— Ouço a voz do meu amado! Vejam! Ele vem saltando pelos montes, pulando sobre as colinas! O meu amado é como uma gazela, como um cervo jovem!
Ela o vê se aproximando, olhando pela janela, espiando pelas grades. Então ele a chama com ternura:
— Levante-se, minha querida! Minha bela, venha comigo! O inverno passou, as chuvas cessaram e se foram. As flores já aparecem nos campos; chegou o tempo de cantar! A voz da rola se ouve em nossa terra.
Ele continua com palavras doces, como quem convida para o amor florescer:
— A figueira começa a dar seus figos, e as videiras florescem com perfume. Levante-se, minha amada, minha linda, venha comigo!
E então, com paixão e sensibilidade, ele pede:
— Minha pomba, que se esconde nas fendas das rochas, nos recantos das escarpas, mostre-me seu rosto, deixe-me ouvir sua voz. Sua voz é doce, e seu rosto, encantador!
Mas o amor também é frágil e precisa ser protegido. E ele diz:
— Apanhem as raposas, as pequenas raposas que devastam as vinhas, pois as nossas vinhas estão em flor!
A Sulamita então declara com confiança e entrega:
— O meu amado é meu, e eu sou dele. Ele pastoreia entre os lírios.
E com um toque de saudade e desejo, ela sussurra:
— Volte, meu amado, antes que sopre a brisa da noite e fujam as sombras. Seja como a gazela, como o cervo jovem, nos montes perfumados.
Esse capítulo mostra o despertar do amor entre o rei e a moça simples do campo — um amor puro, mas ardente, cheio de poesia, desejo e cuidado.
A Busca Noturna – Cantares, Capítulo 3
Certa noite, a jovem Sulamita acordou sobressaltada. O amor era tão forte em seu coração que ela não conseguia dormir. Ela disse:
— Em meu leito, durante a noite, procurei aquele a quem ama a minha alma. Procurei, mas não o encontrei.
A inquietação tomou conta dela. Então decidiu levantar-se, sair pelas ruas silenciosas da cidade e procurar aquele que seu coração tanto desejava.
— Levantarei agora e andarei pela cidade, pelas ruas e pelas praças. Procurarei aquele a quem a minha alma ama!
Ela caminhava com passos ansiosos, chamando por ele com o olhar, mas ele não estava em lugar nenhum. De repente, encontrou os guardas que faziam a ronda noturna.
— Vocês viram aquele a quem ama a minha alma? — perguntou com esperança nos olhos.
Mas não demorou muito... Mal havia passado por eles e, finalmente, ali estava ele — o seu amado. Ela correu ao seu encontro, envolveu-o nos braços com todo o amor e disse:
— Eu o agarrei e não o deixei ir, até que o levei para a casa da minha mãe, para o quarto daquela que me gerou.
Mais uma vez, como quem guarda o segredo e o tempo certo do amor, ela se voltou às moças de Jerusalém e disse com reverência:
— Eu vos conjuro, filhas de Jerusalém, por tudo o que há de puro: não despertem nem provoquem o amor, até que ele o queira.
Na mesma cena, uma nova imagem se forma diante dos olhos de todos. Alguém vem subindo do deserto, envolto numa nuvem de mirra e incenso, perfumado com especiarias escolhidas.
— Quem é este que vem do deserto como uma coluna de fumaça?
É Salomão, o rei, em toda a sua glória. Ele vem em sua liteira real, cercado por sessenta guerreiros valentes, os mais corajosos de Israel. Todos estão armados, prontos para proteger o rei, mesmo nas noites de medo.
A liteira foi feita com esmero — de madeira do Líbano. Suas colunas eram de prata, o encosto de ouro, o assento coberto de púrpura... Tudo ornado com amor pelas filhas de Jerusalém.
E então a cena se abre como uma celebração:
— Saí, ó filhas de Sião, e contemplai o rei Salomão, com a coroa com que sua mãe o coroou no dia do seu casamento, o dia mais feliz de sua vida.
Neste capítulo, vemos dois momentos: a busca ansiosa da Sulamita por seu amado, que revela a profundidade do amor verdadeiro, e a entrada triunfal de Salomão, como o noivo glorioso, rodeado de honra, pronto para viver a plenitude desse amor.
A Beleza da Amada – Cantares, Capítulo 4
Finalmente chegou o momento tão esperado. O amado contempla a Sulamita com os olhos de um homem apaixonado e encantado. Ele a observa de perto, com ternura, e começa a descrever cada detalhe da beleza de sua amada com palavras cheias de poesia e reverência:
— Como você é linda, minha querida! Como é bela! Seus olhos são como os das pombas, brilhando por trás do seu véu. Seu cabelo cai como um rebanho de cabras descendo pelas encostas de Gileade.
Ele continua, com admiração:
— Seus dentes são brancos como ovelhas recém-tosquiadas que sobem do lavadouro, todos alinhados, nenhum está faltando. Seus lábios são como fita escarlate, e sua boca é encantadora. Suas faces, por trás do véu, são como romãs partidas.
E não para por aí. Com respeito e desejo puro, ele segue exaltando:
— Seu pescoço é como a torre de Davi, imponente, adornado com mil escudos. Seus seios são como dois filhotes gêmeos de gazela, pastando entre os lírios.
A paixão cresce em palavras que anunciam o encontro íntimo:
— Antes que sopre a brisa da noite e fujam as sombras, eu subirei ao monte da mirra, à colina do incenso.
E então, ele declara com profundidade:
— Você é toda linda, minha amada; não há defeito algum em você.
Agora, ele a convida:
— Venha comigo do Líbano, minha noiva. Venha do alto dos montes, desça dos picos nevados, dos covis dos leões, das montanhas dos leopardos.
Com o coração rendido ao amor, ele diz:
— Você me arrebatou o coração, minha irmã, minha noiva. Com um simples olhar, com uma joia do seu colar, me conquistou por completo.
O amor entre eles é doce e desejado:
— Como são deliciosas as suas carícias, minha noiva! Mais agradáveis que o vinho! O perfume do seu amor é mais suave que qualquer fragrância.
E ele continua, exaltando a singularidade dela:
— Seus lábios destilam mel puro, minha esposa. Leite e mel estão debaixo da sua língua. Suas roupas têm o cheiro dos campos do Líbano.
Ele a compara a um jardim fechado:
— Você é um jardim secreto, uma fonte selada, um paraíso de romãs, árvores frutíferas, mirra e aloés. É como uma fonte que jorra água viva, uma nascente que desce dos montes.
A Sulamita, então, responde com desejo puro e entrega voluntária:
— Desperte, vento norte! Venha, vento sul! Soprem sobre o meu jardim, espalhem a sua fragrância. Que o meu amado entre em seu jardim e saboreie os seus frutos excelentes!
Esse capítulo é a celebração do amor consumado entre Salomão e a Sulamita — um amor que valoriza o corpo, a alma e o espírito. É uma expressão de intimidade dentro da aliança, marcada pela admiração mútua, respeito profundo e entrega total.
A Porta Fechada e a Busca Ardente – Cantares, Capítulo 5
O amado falou com ternura:
— Entrei no meu jardim, minha irmã, minha noiva. Colhi a mirra e as especiarias, comi o favo com o mel, bebi o vinho com o leite.
E então, como num convite celestial, uma voz ecoa:
— Comam, amigos! Bebam, embriaguem-se de amor!
Agora a cena muda.
É noite, e a Sulamita está em seu quarto. Ela dorme, mas seu coração permanece desperto. De repente, ouve batidas à porta. É o amado, suplicando com doçura e saudade:
— Abre para mim, minha irmã, minha querida, minha pomba, minha imaculada! Minha cabeça está coberta de orvalho, e meus cabelos das gotas da noite.
Mas ela hesita... está cansada, já se despiu, já lavou os pés...
— Já tirei a túnica... como tornaria a vesti-la? Já lavei os pés... como tornaria a sujá-los?
Mesmo assim, o amado tenta abrir a porta. Sua mão toca a maçaneta. O coração dela se agita. Finalmente, ela se levanta para abrir — mas tarde demais.
— Quando abri ao meu amado, ele já se fora. Minha alma se derreteu quando falou, mas não o encontrei. Procurei, e não achei. Chamei, e ele não respondeu.
Desesperada, sai à noite pelas ruas da cidade, à procura do amado. Mas encontra os guardas que rondam a cidade, e eles a tratam com violência:
— Os guardas me encontraram... bateram em mim, feriram-me. Tiraram o meu manto, os sentinelas dos muros.
Mesmo assim, ela não desiste. Volta-se às filhas de Jerusalém com um pedido:
— Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém: se encontrarem o meu amado, digam-lhe que estou enferma de amor!
As moças, surpresas, perguntam:
— Que tem o teu amado mais do que outro, ó mais bela das mulheres? O que ele tem de tão especial, para que assim o procures?
Ela então o descreve com paixão e admiração:
— O meu amado é alvo e rosado, o mais distinto entre milhares. Sua cabeça é como ouro puro, seus cabelos ondulados e negros como o corvo. Seus olhos são como pombas junto às correntes de água. Suas faces são como canteiros de bálsamo, seus lábios gotejam mirra. Suas mãos são anéis de ouro, seus braços colunas de mármore. Seu corpo é como marfim polido, coberto de safiras.
E ela conclui:
— Este é o meu amado, este é o meu amigo, ó filhas de Jerusalém!
Neste capítulo, vemos que o amor, mesmo verdadeiro, também enfrenta desafios: atrasos, desencontros, riscos e saudade. A Sulamita vacila, perde o momento, sofre — mas continua buscando, pois o amor não desiste.
O Reencontro e o Encanto Renovado – Cantares, Capítulo 6
Após ouvir a apaixonada descrição da Sulamita sobre seu amado, as filhas de Jerusalém, agora tocadas por sua devoção, perguntam com ternura:
— Para onde foi o teu amado, ó mais formosa entre as mulheres? Para onde se voltou o teu amado, para que o busquemos contigo?
Ela responde com segurança e doçura, como quem conhece bem o coração de quem ama:
— O meu amado desceu ao seu jardim, aos canteiros de bálsamo, para apascentar nos jardins e colher lírios. Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu; ele apascenta entre os lírios.
Agora é o amado quem fala. Ele olha para ela com reverência e profunda admiração:
— Você é linda, minha amada, como Tirza, formosa como Jerusalém, majestosa como um exército em ordem de batalha!
Mas não é só beleza: é um poder que o desarma:
— Desvie de mim os seus olhos, pois eles me perturbam! Seu cabelo é como um rebanho de cabras descendo de Gileade. Seus dentes são como ovelhas alinhadas, seus lábios são como romãs partidas.
Ele a exalta com palavras que vão além da aparência:
— Sessenta são as rainhas, oitenta as concubinas, e as virgens, sem número... mas uma só é a minha pomba, a minha perfeita. A única de sua mãe, a preferida daquela que a deu à luz.
Até as mulheres da corte a elogiam:
— As moças a veem e a chamam de feliz; as rainhas e concubinas a louvam.
E uma pergunta ecoa entre elas, como admiração coletiva:
— Quem é esta que aparece como a alva do dia, bela como a lua, brilhante como o sol, imponente como um exército?
O amado continua sua lembrança, descrevendo um momento de paz:
— Desci ao pomar das nogueiras para ver os brotos do vale, para observar se a videira já brotava, se as romãs estavam em flor.
E ali, entre jardins e pensamentos, ele se sente tomado pelo amor:
— Sem que eu soubesse, o meu desejo me levou à carruagem do meu nobre povo.
E então as moças clamam:
— Volta, volta, ó Sulamita! Volta, volta, para que te vejamos!
Mas alguém pergunta:
— Por que olham tanto para a Sulamita, como se fosse uma dança de dois exércitos?
Neste capítulo, o amor é reencontrado, reconhecido e celebrado. A Sulamita permanece fiel, e o rei renova sua admiração por ela, mostrando que o amor verdadeiro sabe esperar, sabe buscar, sabe voltar — e sempre vê beleza renovada em quem se ama.
A Beleza Celebrada e o Prazer do Amor – Cantares, Capítulo 7
Salomão olha para a Sulamita com um olhar de quem conhece e ama cada detalhe. Não mais como quem descobre, mas como quem contempla com intimidade sagrada. E então ele fala, exaltando sua beleza da cabeça aos pés:
— Como são formosos os teus pés nas sandálias, ó filha de príncipe! Teus quadris são como joias esculpidas por mãos de artista. Teu ventre é como uma taça redonda que nunca falta vinho; tua cintura como um feixe de trigo rodeado de lírios.
Ele continua, envolto em admiração e desejo reverente:
— Teus seios são como dois filhotes gêmeos de gazela. Teu pescoço é como uma torre de marfim, teus olhos são como os lagos de Hesbom. Teu nariz é como a torre do Líbano, voltada para Damasco. Tua cabeça se eleva como o Carmelo, e teus cabelos são como púrpura real. Um rei se perde nos teus cabelos!
E ele resume seu encantamento:
— Como você é linda, como é encantadora! O amor contigo é um prazer!
Então, com palavras de puro desejo dentro da aliança, ele diz:
— Tua estatura é como a palmeira, e teus seios como cachos de uvas. Subirei à palmeira e colherei os seus frutos. Que os teus seios sejam como os cachos da videira, e teu hálito como o perfume das maçãs. Que teus beijos sejam como o melhor vinho...
A Sulamita responde com confiança e entrega amorosa:
— Que o vinho vá suavemente aos lábios do meu amado, escorrendo suavemente por seus lábios adormecidos.
E então ela declara com firmeza:
— Eu sou do meu amado, e ele sente desejos por mim.
Agora é ela quem toma a iniciativa do amor maduro:
— Venha, meu amado, vamos ao campo, passemos a noite entre os vinhedos. Ao amanhecer, vamos às vinhas ver se a videira brotou, se as flores desabrocharam, se as romãs estão em flor. Ali eu lhe darei o meu amor.
Ela continua, lembrando que o amor se cultiva com intenções puras:
— As mandrágoras exalam seu perfume, e junto às nossas portas estão todos os tipos de delícias — frutas novas e antigas — que guardei para ti, ó meu amado.
Neste capítulo, vemos que o amor entre Salomão e a Sulamita atinge maturidade: é confiante, mútuo, cheio de prazer, sem pressa, sem culpa, sem medo. Um amor que se alegra com o corpo, mas que floresce no compromisso, no respeito e na entrega.
O Amor Que Não Pode Ser Quebrado – Cantares, Capítulo 8
Agora a Sulamita fala com o coração pleno, sem medo, desejando que o amor fosse livre para se expressar a qualquer hora, em qualquer lugar. Ela diz:
— Ah, se você fosse como meu irmão, criado nos seios da minha mãe! Eu o encontraria na rua e o beijaria, e ninguém me desprezaria por isso. Eu o levaria à casa da minha mãe, e você me ensinaria. Eu lhe daria vinho aromático para beber, o suco das minhas romãs.
Ela continua, com ternura já conhecida:
— A sua mão esquerda estaria sob a minha cabeça, e a direita me abraçaria.
E mais uma vez, como fez antes, ela se dirige às moças de Jerusalém com um alerta sagrado:
— Eu vos conjuro, ó filhas de Jerusalém: não despertem o amor, até que ele o queira.
A história continua com uma cena de retorno. A voz pergunta:
— Quem é esta que sobe do deserto, apoiada em seu amado?
É a Sulamita, transformada — antes solitária, agora amparada; antes ansiosa, agora segura no amor. Ela fala com ternura e saudade:
— Debaixo da macieira eu te despertei. Ali tua mãe te concebeu, ali ela deu à luz aquele que eu amo.
E então ela pronuncia palavras que se tornariam eternas — um selo sobre o amor verdadeiro:
— Põe-me como um selo sobre o teu coração, como um selo sobre o teu braço.
Porque o amor é forte como a morte, e o ciúme é inflexível como a sepultura.
Suas chamas são fogo ardente, labaredas do Senhor.
Ela continua:
— Nem muitas águas conseguem apagar o amor, nem os rios conseguem afogá-lo. Se alguém oferecesse todos os bens da sua casa para comprá-lo, seria totalmente desprezado.
Surge uma lembrança de infância. Os irmãos da Sulamita dizem:
— Temos uma irmã pequena, que ainda não tem seios. Que faremos por ela no dia em que for pedida em casamento?
E decidem:
— Se ela for como um muro, construiremos sobre ela uma torre de prata; se for como uma porta, reforçá-la-emos com tábuas de cedro.
A Sulamita então declara com segurança:
— Eu sou um muro, e meus seios são como torres. Assim me tornei aos olhos dele como alguém que encontra paz.
Ela conclui a história com uma imagem final:
— Salomão tinha uma vinha em Baal-Hamom, que foi arrendada a lavradores. Cada um devia dar pelo fruto mil peças de prata. A minha vinha, que é minha, está diante de mim. Os mil são para Salomão, e duzentos para os que cuidam do seu fruto.
E o livro termina com o desejo de amor contínuo, vivo e presente:
— Você que habita nos jardins, os amigos escutam sua voz — deixe-me ouvi-la!
E o amado responde com ternura:
— Vem depressa, minha amada!
Seja como gazela ou cervo jovem sobre os montes de especiarias!
Fim: O Amor Segundo Deus
Assim se encerra o Cântico dos Cânticos — uma celebração do amor fiel, puro, desejado e maduro. Não é um amor passageiro, mas uma chama acesa pelo próprio Deus. É romântico, físico, emocional, espiritual e eterno.