ÍNDICE

O pré-milenismo histórico e O pré-milenismo dispensacional

 pré-milenismo histórico


O chamado pré-milenismo histórico foi a posição dominante dos
pais da igreja na teologia,

entre os séculos ue iv. Entre esses pais da igreja, podemos
mencionar Justino de Roma,[1]
Ireneu de Lion,[2]
Tertuliano[3]
e Cipriano, embora existissem outras interpretações sobre o milênio.


Papias, que, segundo a tradição, foi discípulo do apóstolo João,
cria na idéia de um reino literal de mil anos na Terra, depois da segunda vinda
de Cristo. Essa é a noção que define o pré-milenismo. Ao defender o milênio,
esses pensadores entendiam que estavam defendendo a ortodoxia cristã de três
maneiras:


1) apoiando a apostolicidade e canonicidade do Apocalipse contra
os que combinaram a negação desse livro com a rejeição ao milenismo;[4] 


2 ) opondo-se aos gnósticos, que espiritualizavam a doutrina
cristã, destruindo a esperança do futuro; 3) opondo-se aos cristãos platônicos,
como Orígenes,[5]
cuja rejeição de um milênio literal era baseada numa hermenêutica alegórica e
que revelava um menosprezo idealista para com a criação.[6]


Durante a Reforma protestante, William Tyndale e muitos dos
anabatistas defenderam o pré-milenismo. No século  xvii , 
vários puritanos também afirmaram esta posição, como William Twisse, que
presidiu a assembléia que- preparou a 
Confissão de Fé de Westminster, Thomas Goodwin, William Bridge e
Jeremiah Burroughs.[7]
Quase todos os puritanos da Nova Inglaterra eram pré-milenistas, entre eles,
Cotton Mather. Entre os batistas são contados, Benjamin Keach e John Gill, e
entre os pietistas alemães, Phillip Jakob Spener e Johann A. Bengel. No grande
avivamento do século xvni, Charles Wesley e Augustus Toplady afirmaram o
pré-milenismo, assim como os irmãos Andrew e Horatius Bonar e C. H. Spurgeon,
no século xix, na Escócia e na Inglaterra. Entre os teólogos contemporâneos que
afirmam esta posição estão Oscar Cullmann, Russell SheddGeorge Eldon Ladd,
Wayne Grudem, R. K. McGregor Wright e Millard Erickson.

Segundo o pré-milenismo histórico, a ordem dos eventos pode ser
assim resumida:

A era atual da igreja, a evangelização e a apostasia do ser humano;

A grande tribulação de sete anos, a ascensão do anticristo e a perseguição da igreja;

O retorno de Cristo, o arrebatamento, a primeira ressurreição e a batalha do Armagedom;

A inauguração do milênio e a prisão de Satanás no abismo;

O fim do milênio, a soltura de Satanás e a rebelião das nações;

A derrota final de Satanás, a ressurreição dos ímpios e o juízo final;

O estado eterno.

A Maioria dos pré-milenistas históricos adota a visão pós-tribulacionista, que sustenta que os crentes vivos serão arrebatados na segunda vinda de Cristo, com o arrebatamento ocorrendo ao final da grande tribulação. Os principais defensores dessa posição, ao longo da história, incluem o Didaquê, o Pastor de Hermas, a Epístola de Barnabé, Justino de Roma, Irineu de Lyon, Tertuliano, e atualmente, George Ladd, Robert Gundry e Douglas Moo..[8]






O pré-milenismo
dispensacional

O pré-milenismo dispensacional teve sua origem na Inglaterra, no século XIX, principalmente através dos ensinamentos de Edward Irving e John Nelson Darby. Essa teologia foi amplamente divulgada por diversos pregadores conhecidos, como C. I. Scofield. Embora essa posição compartilhe várias semelhanças com o pré-milenismo histórico, existem diferenças significativas entre elas.

Os dispensacionalistas defendem que apenas eles mantêm uma interpretação estritamente literal das Escrituras. Como resultado, costumam acusar teólogos que adotam outras perspectivas escatológicas de "espiritualizarem" a Bíblia. Dessa maneira, algumas denominações e organizações missionárias que seguem o dispensacionalismo não reconhecem amilenistas ou pós-milenistas como ministros ou missionários. A Bíblia de Referência de Scofield é um exemplo da influência desse movimento.[9] Também fez com que o dispensacionalismo viesse a ser conhecido como sinônimo de fundamentalismo.[10]


Uma das doutrinas que se destaca no dispensacionalismo é a noção do arrebatamento da igreja antes da Grande Tribulação, que será explorada posteriormente. Essa doutrina está intimamente relacionada com a separação clara que os dispensacionalistas fazem entre Israel e a igreja. De acordo com essa perspectiva, Jesus ofereceu um reino físico aos judeus em sua primeira vinda. Contudo, após ser rejeitado por eles, o reino foi postergado e Deus iniciou um novo plano: a instituição da dispensação da igreja. Assim, Jesus estendeu a proposta de salvação aos gentios em virtude da recusa dos judeus. Esta situação, entretanto, é vista como provisória, já que todas as promessas e profecias do Antigo Testamento referentes a Israel devem ser cumpridas de forma literal. Além disso, os dispensacionalistas demonstram grande atenção pela história do moderno Estado de Israel, fundado em 1948, considerando-o o cumprimento das profecias do Antigo Testamento.

A característica principal dessa abordagem é a forma de segmentar as Escrituras em dispensações. O termo é compreendido da seguinte maneira: embora “dispensação” se traduza literalmente como “administração” ou “mordomia”, derivado do grego  oikonomia (Ef 3.2), os dispensacionalistas o utilizam para definir “um período de tempo durante o qual o homem é testado em sua obediência a uma revelação específica da vontade de Deus”, conforme a definição de Scofield [...]. Cada uma dessas dispensações, segundo a crença deles, termina com o insucesso humano e o inevitável juízo divino.[11]
Embora existam variações, de modo geral, os defensores dessa perspectiva ressaltam sete dispensações bíblicas:

1. A dispensação da inocência ou dispensação edênica, que começa com a criação do homem e termina com a queda.

2. A dispensação adâmica, também conhecida como dispensação da consciência ou da autodeterminação. Aqui, o homem, ao distinguir entre o bem e o mal, assume responsabilidade por suas decisões diante de Deus.

3. A dispensação noaica, ou dispensação do governo humano, que envolvia organizar a sociedade de maneira que houvesse autoridades civis para evitar a anarquia e conduzir os homens a Deus. Essa fase vai do dilúvio até a torre de Babel.

Essas três primeiras dispensações são consideradas universais, aplicando-se a toda a humanidade e não apenas a um grupo específico.

4. A dispensação abraâmica, ou dispensação da promessa, em que Deus escolheu Abraão e estabeleceu um povo particular a quem concedeu responsabilidades através de um pacto incondicional, passando esse legado de Abraão para Isaque e este para Jacó.

5. A dispensação mosaica, ou dispensação da lei, concedida exclusivamente ao povo de Israel, enquanto as demais nações mantiveram um governo sobre si mesmas, similar ao que as nações ímpias fazem até hoje. Essa dispensação abrange o tempo desde a entrega da lei a Moisés até a morte de Cristo.

6. A dispensação da igreja, ou dispensação da graça, que estabelece um novo povo chamado igreja, vigente até os dias atuais. Diferentemente da lei, a mordomia desta dispensação é responsabilidade da igreja e não de Israel ou das demais nações. É importante notar o período da grande tribulação, que se situa entre a dispensação da igreja e a próxima dispensação. Este período de sete anos, dividido em duas partes — uma de paz, com o reconhecimento de Israel como nação, e outra de perseguição ao povo de Deus pelo anticristo, juntamente com a ira divina contra os não-cristãos — não se encaixa na dispensação da igreja, uma vez que esta será arrebatada antes da grande tribulação, e igualmente não se insere na dispensação do milênio, que ainda não terá começado.

A visão mais comum sobre a posição dispensacional da igreja em relação à grande tribulação é o pré-tribulacionismo, que, em termos gerais, afirma que Cristo virá para sua igreja antes de retornar com ela.[12]
A primeira fase do retorno de Cristo é conhecida como arrebatamento, enquanto a segunda é denominada revelação. A atenção se concentra na iminência do arrebatamento oculto da igreja, que acontecerá antes do início da grande tribulação.[13]  Os principais proponentes dessa visão incluem John F. Walvoord, J. Dwight Pentecost, John Feinberg, Paul Feinberg e Charles C. Ryrie. Alguns dispensacionalistas adotam uma perspectiva chamada mid-tribulacionismo, que é considerada uma posição intermediária entre o pré-tribulacionismo e o pós-tribulacionismo. Essa perspectiva afirma que a igreja será arrebatada no meio da tribulação, antes da fase mais intensa da grande tribulação. Os defensores dessa posição incluem Gleason L. Archer, J. Oliver Buswell e Merrill C. Tenney.

Há também quem defenda que esse período representa uma dispensação em que a característica marcante será a ira divina derramada sobre as nações inimigas de Israel, que enfrentará aflições sem precedentes. Este será um momento em que Deus irá ajustar contas com os gentios rebeldes, o Israel incrédulo e a falsa igreja que não reconhece Jesus Cristo como seu único Senhor. O período de tribulação culmina em julgamento, preparado por meio da dispensação do governo humano, a dispensação da promessa e a dispensação da igreja, a fim de que, ao iniciar a próxima dispensação, permaneçam apenas os verdadeiros crentes.

O período é conhecido como a dispensação do reino ou dispensação do milênio, que se estenderá por mil anos. O milênio representa o objetivo de todas as dispensações anteriores. A justiça, a paz e a prosperidade serão características dessa dispensação, onde Jesus exercerá o governo sobre todas as coisas. O reino de Deus, perdido pela humanidade na primeira dispensação, e que não foi recuperação com sucesso nas outras cinco, será restaurado pelo poder de Cristo, e não por esforços humanos. Ao final deste período, após a libertação de Satanás, ocorrerá a derrota definitiva dele, a ressurreição dos ímpios e o julgamento final. Com o término desta dispensação, dará início o estado eterno.


Alguns dos primeiros dispensacionalistas nos Estados Unidos foram C. I. Scofield, Amo C. Gaebelein e Lewis S. Chafer. Entre os cristãos contemporâneos que defendem essa perspectiva, encontram-se John F. Walvoord, J. Dwight Pentecost, Charles C. Ryrie, Norman Geisler, J. Scott Horrell, Walter C. Kaiser, Francis Schaeffer e John MacArthur Jr. 

Referência: Franklin Ferreira e Alan Myatt. Teologia Sistemática — editora: Vida Nova, SP. 2007, pp 101-1102; 1107-1108.


[1] Veja, no Diálogo com Trifão, 40 e 51, Justino, apesar de ser um defensor do milenarismo, reconhece que muitos cristãos ortodoxos não aceitam essa doutrina. Como mencionado em Diálogo com Trifão, 81-82, especialmente na passagem 80.2: “Já te disse que eu e muitos outros acreditamos dessa maneira, e temos plena certeza que assim ocorrerá. Contudo, também te indiquei que existem muitos cristãos, com mentalidade pura e devota, que rejeitam essas ideias.”

[2] Cf. Adversus Haereses,V .33-36.
[3] Adversus Marcionem,IV.39.
[4] Cf.  H istória eclesiástica,VII.14.1-3;
VII.24.6-8.
[5] Cf.  De Príncipiis,II. 11.2.
[6] Cf. J. Scott HorrelI, Apostila de teologia sistem ática,p. 116.
[7] Iain Murray,  Thepuritan hope,p. 52-53.
[8] Millard J. Erickson,  Opções
contemporâneas na escatologia; um estudo do milênio, p. 118-131. Ele ainda diz:
“O pós-tribulacionismo, como o pré-tribulacionismo, é primariamente uma
subdivisão do pré-milenismo. Tecnicamente, todos os não-pré-milenistas são
pós-tribulacionistas. Poucos não-pré-milenistas, no entanto, preocupam-se com a
idéia de uma tribulação” (p. 118).[9]
Cf. A B íblia de referência de Scofield,William W. Walker (ed.).
[10] Cf. Millard J. Erickson,  O pções
contemporâneas na escatologia,p. 95: “Provavelmente, a popularização mais eficaz do dispensacionalismo
foi a Bíblia de Referência de Scofield. No começo do século xix, havia poucas Bíblias
disponíveis com ‘ajudas’. Procure imaginar a prédica do leigo típico. Conhece
algumas histórias bíblicas, mas tem dúvidas acerca de sua ordem cronológica ou
ambiente geográfico, ou, ainda mais provavelmente, tem dúvidas quanto ao
significado de muitas passagens doutrinárias. Quando, pois, obtém uma Bíblia
com um esboço juntamente com o texto e com notas explanatórias ao rodapé de
cada página, fica muito alegre. Naturalmente, tem forte atração para qualquer
pessoa que não tem comentários ou que acha inconveniente carregar um comentário
consigo. Scofield tinha 
convenientemente combinado o
texto e o comentário num só volume. Não surpreende que algumas pessoas achassem
conveniente lembrar-se de que leram ou não alguma coisa no rodapé (nas notas)
ou no meio da página (no texto). A interpretação de Scofield veio a ser
amplamente adotada nos círculos fundamentalistas [americanos]. Em algumas igrejas,
até se pode ouvir o farfalhar de muitas páginas sendo viradas simultaneamente,
porque tantas pessoas levam a Bíblia de Scofield. Não é totalmente desconhecida
a situação em que um pastor, para citar a localização de uma passagem, dá o
número da página ao invés de citar o livro, capítulo e versículo!”
[11] João Alves dos Santos, O dispensacionalismo e suas implicações doutrinárias, disponível
em http://www.ipcb.org.br/ Publicacoes/o_dispensacionalismo.htm#_ftnref25,
acessado em 12.06.2007.
[12] Iain Murray,  The puritcm hope, p. 200,
diz que é necessário levar em consideração que esse “arrebatamento secreto e
iminente” não deixa de ser “uma crença curiosa, praticamente desconhecida na
história antiga da teologia”. Sobre a crença do arrebatamento secreto ele
escreve: “É claro que nenhum grupo cristão fez dela um tema de fé antes do
século xix” (p. 286). Para um entendimento do dispensacionalismo como uma
“inovação conservadora”, cf. George Marsden, 
Understanding fundamentalism an d evangelicalism, p. 39-41.
[13]Talvez quem mais tenha feito para popularizar esta posição, nos últimos anos,
seja a famosa série de treze volumes, escrita por Tim LaHaye e Jerry
Jenkins,  D eixados p a ra
trás,publicados no Brasil pela United Press. Cf. a resenha de Mauro Fernando
Meister sobre o primeiro volume da série “Deixados para trás: Uma Ficção dos Últimos
D ias” (São Paulo: United Press, 1997), em F ides Reformadav.4, n.2, p.
192-194. Nesta obra, LaHaye afirmou:  “D
eixados p a ra trás éo primeiro relato ficcional dos eventos que é fiel à
interpretação literal da profecia bíblica. Foi escrito para qualquer pessoa que
ame a ficção atraente, apresentando personagens verossímeis e um enredo
dinâmico que também inclui acontecimentos proféticos em uma história
fascinante” (p. 192).


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